domingo, 29 de dezembro de 2013

Como criar uma Seita em 5 etapas

O macete publicitário dos charlatões hoje em dia pode parecer antiquado, mas ainda existem entre nós milhares que continuam usando os mesmos métodos testados e comprovados que seus antecessores aperfeiçoaram séculos atrás, mudando apenas os nomes dos seus elixires e modernizando a cara dos seus cultos. Encontramos estes charlatões contemporâneos em todas as áreas da vida — negócios, moda, política, arte. Muitos deles, talvez, seguem a tradição charlatã sem ter nenhum conhecimento histórico, mas você pode ser mais sistemático e premeditado. Simplesmente siga as cinco etapas da criação de um culto que nossos ancestrais charlatões aperfeiçoaram ao longo dos anos. 

Etapa 1: Seja Vago, Seja Simples. Para criar um culto você deve primeiro chamar atenção. Isto não deve ser feito com ações, que são muito claras e de fácil compreensão, mas com palavras, que são nebulosas e enganadoras. No início, seus discursos, conversas e entrevistas devem incluir dois elementos: um, a promessa de algo grandioso e transformador; e outro, a total indefinição. Estes dois elementos combinados estimularão os mais variados tipos de sonho nebuloso nos seus ouvintes, que farão as suas próprias conexões e verão o que quiserem ver. Torne atraente a sua indefinição, use palavras de grande ressonância mas significado obscuro, palavras cheias de calor e entusiasmo. Títulos sofisticados para coisas simples são úteis, como são o uso de números e a criação de novas palavras para conceitos vagos. Tudo isso cria a impressão de conhecimento especializado, dando a você um verniz de profundidade. Para provar o que estou dizendo, tente tornar o assunto do seu culto uma novidade, de forma que poucos o compreendam. Feita corretamente, a combinação de promessas vagas, conceitos nebulosos mas atraentes, e ardente entusiasmo alvoroçam as almas das pessoas e um grupo se formará ao seu redor. Use um discurso vago demais, e você perderá a credibilidade. Ser específico, porém, é mais perigoso. Se você explica em detalhes os benefícios que as pessoas terão seguindo o seu culto, você terá de satisfazê-las. Como um corolário a essa indefinição, o seu apelo deve também ser simples. A maioria dos problemas das pessoas é de origem complexa: neuroses profundas, fatores sociais inter-relacionados, raízes num passado distante excessivamente difíceis de desemaranhar. Poucos, entretanto, têm paciência para lidar com isto: a maioria quer uma solução simples para seus problemas. A capacidade de oferecer este tipo de solução lhe dará um grande poder e aumentará o número dos seus seguidores. Em vez de explicações complicadas baseadas na vida real, volte às soluções primitivas dos nossos ancestrais, à velha medicina natural, às panaceias misteriosas. 

Etapa 2: Enfatize os Elementos Visuais e Sensoriais, de Preferência aos Intelectuais. Depois que as pessoas começam a se congregar a sua volta, dois perigos surgem naturalmente: o tédio e o ceticismo. O tédio fará as pessoas se afastarem, o ceticismo lhes permitirá um distanciamento para analisar mais racionalmente o que você oferece, desfazendo a névoa que você engenhosamente criou e revelando o que você realmente pensa. Você precisa distrair os entediados, portanto, e afastar os céticos. A melhor maneira é fazer teatro, e outras coisas desse tipo. Cerque-se de luxo, atordoe seus seguidores com o esplendor visual, encha os olhos deles com espetáculos. Você não só impedirá que eles vejam que suas idéias são absurdas, que o seu sistema de crença é falho, como chamará mais atenção e atrairá mais seguidores. Apele para todos os sentidos: use incenso para as narinas, música tranquilizadora para os ouvidos, tabelas e gráficos coloridos para os olhos. Você pode até fazer cócegas na mente, usando talvez engenhocas tecnológicas recentes para dar ao seu culto um verniz pseudocientífico — desde que não faça ninguém pensar realmente. Use elementos exóticos — culturas distantes, costumes estranhos — para criar efeitos teatrais, e fazer os incidentes mais banais e corriqueiros parecerem indícios de algo extraordinário. 

Etapa 3: Copie as Formas da Religião Organizada para Estruturar o Grupo. Seu séquito está crescendo, é hora de organizá-lo. Descubra um jeito ao mesmo tempo alegre e agradável. As religiões organizadas há muito tempo exercem uma inquestionável autoridade sobre um grande número de pessoas, e continuam assim na nossa era supostamente secular. E mesmo que a religião tenha perdido um pouco da sua influência, suas formas ainda ecoam poder. As associações altivas e sagradas da religião organizada podem ser infinitamente exploradas. Crie rituais para os seus seguidores; organize-os hierarquicamente, nivelando-os em graus de santidade, e dando-lhes nomes e títulos com matizes religiosos; peça-lhes sacrifícios que encherão o seu cofre e aumentarão o seu poder. Para enfatizar a natureza semi-religiosa do seu grupo, fale e aja como um profeta. Você não é um ditador, afinal de contas — você é um sacerdote, um guru, um sábio, um xamã, ou qualquer outro termo que dissimule o seu verdadeiro poder nas brumas da religião. 

Etapa 4: Disfarce a Sua Fonte de Renda. O seu grupo cresceu, e você o estruturou como uma igreja. Seus cofres estão começando a se encher com o dinheiro dos seus fiéis. Mas você não deve parecer muito ávido de dinheiro e do poder que ele traz. É neste momento que você precisa disfarçar a sua fonte de renda. 
Seus seguidores querem acreditar que, acompanhando você, tudo de bom lhes cairá no colo. Cercando-se de luxo você se torna prova da estabilidade do seu sistema de crença. Não revele jamais que a sua riqueza vem é do bolso deles; pelo contrário, faça parecer que ela se origina da autenticidade dos seus métodos. Eles imitarão todos os seus movimentos acreditando que alcançarão os mesmos resultados, e nesse afã não perceberão que a sua riqueza é puro charlatanismo. 

Etapa 5: Estabeleça uma Dinâmica Nós-versus-eles. O grupo agora é grande e está prosperando, um ímã atraindo uma quantidade cada vez maior de partículas. Mas se você não prestar a atenção, vem a inércia, e o tempo acrescido do tédio desmagnetiza o grupo. Para manter unidos os seus seguidores, você agora deve fazer o que todas as religiões e sistemas de crenças fizeram: criar uma dinâmica nós-versus-eles. Primeiro, certifique-se de que seus seguidores acreditam que participam de um clube exclusivo, unidos por uma mistura de objetivos comuns a todos. Depois, para reforçar esta união, crie a ideia de um inimigo traiçoeiro disposto a acabar com vocês. Existe um exército de infiéis que farão tudo para deter você. Qualquer forasteiro que tentar revelar a natureza charlatã do seu sistema de crença pode agora ser descrito como um membro desta força traiçoeira. Se você não tiver inimigos, invente um. Achando um judas para malhar, seus seguidores ficarão mais unidos e coesos. Eles têm uma causa em que acreditar, a sua, e infiéis para destruir.
(Trecho retirado do livro As 48 leis do Poder - Robert Greene)




Infelizmente, muitas pessoas ainda se deixam dominar pelo poder das seitas, cultos e religiões. Devemos manter os olhos abertos para as verdadeiras intenções daqueles que querem revelar e propagar a "Verdade". O texto de Robert Greene nos mostra como esse tipo de grupo é criado e estruturado, atraindo seguidores e gerando um lucro financeiro absurdo. Fiquemos atentos! É lógico que cada um tem o direito de ter suas crenças e sua fé, mas o raciocínio e a lógica são qualidades insubstituíveis no processo da escolha de uma religião/culto/seita. Não aja como um carneirinho, pense com sua própria cabeça! Não seja fanático, não se torne uma presa fácil para charlatões. Pergunte, questione, discuta, duvide! Lembre-se: Fé cega, Faca amolada!

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Teoria do Medalhão

Diálogo 
- Estás com sono? 
- Não, senhor. 
- Nem eu; conversemos um pouco. Abre a janela. Que horas são? 
- Onze. 
- Saiu o último conviva do nosso modesto jantar. Com que, meu peralta, chegaste aos teus vinte e um anos. Há vinte e um anos, no dia 5 de agosto de 1854, vinhas tu à luz, um pirralho de nada, e estás homem, longos bigodes, alguns namoros... 
- Papai... - Não te ponhas com denguices, e falemos como dois amigos sérios. Fecha aquela porta; vou dizer-te coisas importantes. Senta-te e conversemos. Vinte e um anos, algumas apólices, um diploma, podes entrar no parlamento, na magistratura, na imprensa, na lavoura, na indústria, no comércio, nas letras ou nas artes. Há infinitas carreiras diante de ti. Vinte e um anos, meu rapaz, formam apenas a primeira sílaba do nosso destino. Os mesmos Pitt e Napoleão, apesar de precoces, não foram tudo aos vinte e um anos. Mas qualquer que seja a profissão da tua escolha, o meu desejo é que te faças grande e ilustre, ou pelo menos notável, que te levantes acima da obscuridade comum. A vida, Janjão, é uma enorme loteria; os prêmios são poucos, os malogrados inúmeros, e com os suspiros de uma geração é que se amassam as esperanças de outra. Isto é a vida; não há planger, nem imprecar, mas aceitar as coisas integralmente, com seus ônus e percalços, glórias e desdouros, e ir por diante. 
- Sim, senhor. 
- Entretanto, assim como é de boa economia guardar um pão para a velhice, assim também é de boa prática social acautelar um ofício para a hipótese de que os outros falhem, ou não indenizem suficientemente o esforço da nossa ambição. É isto o que te aconselho hoje, dia da tua maioridade. 
- Creia que lhe agradeço; mas que ofício, não me dirá? 
- Nenhum me parece mais útil e cabido que o de medalhão. Ser medalhão foi o sonho da minha mocidade; faltaram-me, porém, as instruções de um pai, e acabo como vês, sem outra consolação e relevo moral, além das esperanças que deposito em ti. Ouve-me bem, meu querido filho, ouve-me e entende. És moço, tens naturalmente o ardor, a exuberância, os improvisos da idade; não os rejeites, mas modera-os de modo que aos quarenta e cinco anos possas entrar francamente no regime do aprumo e do compasso. O sábio que disse: "a gravidade é um mistério do corpo", definiu a compostura do medalhão. Não confundas essa gravidade com aquela outra que, embora resida no aspecto, é um puro reflexo ou emanação do espírito; essa é do corpo, tão-somente do corpo, um sinal da natureza ou um jeito da vida. Quanto à idade de quarenta e cinco anos... 
- É verdade, por que quarenta e cinco anos? 
- Não é, como podes supor, um limite arbitrário, filho do puro capricho; é a data normal do fenômeno. Geralmente, o verdadeiro medalhão começa a manifestar-se entre os quarenta e cinco e cinqüenta anos, conquanto alguns exemplos se dêem entre os cinqüenta e cinco e os sessenta; mas estes são raros. Há-os também de quarenta anos, e outros mais precoces, de trinta e cinco e de trinta; não são, todavia, vulgares. Não falo dos de vinte e cinco anos: esse madrugar é privilégio do gênio. 
- Entendo. 
- Venhamos ao principal. Uma vez entrado na carreira, deves pôr todo o cuidado nas idéias que houveres de nutrir para uso alheio e próprio. O melhor será não as ter absolutamente; coisa que entenderás bem, imaginando, por exemplo, um ator defraudado do uso de um braço. Ele pode, por um milagre de artifício, dissimular o defeito aos olhos da platéia; mas era muito melhor dispor dos dois. O mesmo se dá com as idéias; pode-se, com violência, abafá-las, escondê-las até à morte; mas nem essa habilidade é comum, nem tão constante esforço conviria ao exercício da vida. 
- Mas quem lhe diz que eu... 
- Tu, meu filho, se me não engano, pareces dotado da perfeita inópia mental, conveniente ao uso deste nobre ofício. Não me refiro tanto à fidelidade com que repetes numa sala as opiniões ouvidas numa esquina, e vice-versa, porque esse fato, posto indique certa carência de idéias, ainda assim pode não passar de uma traição da memória. Não; refiro-me ao gesto correto e perfilado com que usas expender francamente as tuas simpatias ou antipatias acerca do corte de um colete, das dimensões de um chapéu, do ranger ou calar das botas novas. Eis aí um sintoma eloqüente, eis aí uma esperança, No entanto, podendo acontecer que, com a idade, venhas a ser afligido de algumas idéias próprias, urge aparelhar fortemente o espírito. As idéias são de sua natureza espontâneas e súbitas; por mais que as sofreemos, elas irrompem e precipitam-se. Daí a certeza com que o vulgo, cujo faro é extremamente delicado, distingue o medalhão completo do medalhão incompleto. 
- Creio que assim seja; mas um tal obstáculo é invencível. 
- Não é; há um meio; é lançar mão de um regime debilitante, ler compêndios de retórica, ouvir certos discursos, etc. O voltarete, o dominó e o whist são remédios aprovados. O whist tem até a rara vantagem de acostumar ao silêncio, que é a forma mais acentuada da circunspecção. Não digo o mesmo da natação, da equitação e da ginástica, embora elas façam repousar o cérebro; mas por isso mesmo que o fazem repousar, restituem-lhe as forças e a atividade perdidas. O bilhar é excelente. 
- Como assim, se também é um exercício corporal? 
- Não digo que não, mas há coisas em que a observação desmente a teoria. Se te aconselho excepcionalmente o bilhar é porque as estatísticas mais escrupulosas mostram que três quartas partes dos habituados do taco partilham as opiniões do mesmo taco. O passeio nas ruas, mormente nas de recreio e parada, é utilíssimo, com a condição de não andares desacompanhado, porque a solidão é oficina de idéias, e o espírito deixado a si mesmo, embora no meio da multidão, pode adquirir uma tal ou qual atividade. 
- Mas se eu não tiver à mão um amigo apto e disposto a ir comigo? 
- Não faz mal; tens o valente recurso de mesclar-te aos pasmatórios, em que toda a poeira da solidão se dissipa. As livrarias, ou por causa da atmosfera do lugar, ou por qualquer outra, razão que me escapa, não são propícias ao nosso fim; e, não obstante, há grande conveniência em entrar por elas, de quando em quando, não digo às ocultas, mas às escâncaras. Podes resolver a dificuldade de um modo simples: vai ali falar do boato do dia, da anedota da semana, de um contrabando, de uma calúnia, de um cometa, de qualquer coisa, quando não prefiras interrogar diretamente os leitores habituais das belas crônicas de Mazade; 75 por cento desses estimáveis cavalheiros repetir-te-ão as mesmas opiniões, e uma tal monotonia é grandemente saudável. Com este regime, durante oito, dez, dezoito meses - suponhamos dois anos, - reduzes o intelecto, por mais pródigo que seja, à sobriedade, à disciplina, ao equilíbrio comum. Não trato do vocabulário, porque ele está subentendido no uso das idéias; há de ser naturalmente simples, tíbio, apoucado, sem notas vermelhas, sem cores de clarim... 
- Isto é o diabo! Não poder adornar o estilo, de quando em quando... 
- Podes; podes empregar umas quantas figuras expressivas, a hidra de Lerna, por exemplo, a cabeça de Medusa, o tonel das Danaides, as asas de Ícaro, e outras, que românticos, clássicos e realistas empregam sem desar, quando precisam delas. Sentenças latinas, ditos históricos, versos célebres, brocardos jurídicos, máximas, é de bom aviso trazê-los contigo para os discursos de sobremesa, de felicitação, ou de agradecimento. Caveant consules é um excelente fecho de artigo político; o mesmo direi do Si vis pacem para bellum. Alguns costumam renovar o sabor de uma citação intercalando-a numa frase nova, original e bela, mas não te aconselho esse artifício: seria desnaturar-lhe as graças vetustas. Melhor do que tudo isso, porém, que afinal não passa de mero adorno, são as frases feitas, as locuções convencionais, as fórmulas consagradas pelos anos, incrustadas na memória individual e pública. Essas fórmulas têm a vantagem de não obrigar os outros a um esforço inútil. Não as relaciono agora, mas fá-lo-ei por escrito. De resto, o mesmo ofício te irá ensinando os elementos dessa arte difícil de pensar o pensado. Quanto à utilidade de um tal sistema, basta figurar uma hipótese. Faz-se uma lei, executa-se, não produz efeito, subsiste o mal. Eis aí uma questão que pode aguçar as curiosidades vadias, dar ensejo a um inquérito pedantesco, a uma coleta fastidiosa de documentos e observações, análise das causas prováveis, causas certas, causas possíveis, um estudo infinito das aptidões do sujeito reformado, da natureza do mal, da manipulação do remédio, das circunstâncias da aplicação; matéria, enfim, para todo um andaime de palavras, conceitos, e desvarios. Tu poupas aos teus semelhantes todo esse imenso aranzel, tu dizes simplesmente: Antes das leis, reformemos os costumes! - E esta frase sintética, transparente, límpida, tirada ao pecúlio comum, resolve mais depressa o problema, entra pelos espíritos como um jorro súbito de sol. 
- Vejo por aí que vosmecê condena toda e qualquer aplicação de processos modernos. 
- Entendamo-nos. Condeno a aplicação, louvo a denominação. O mesmo direi de toda a recente terminologia científica; deves decorá-la. Conquanto o rasgo peculiar do medalhão seja uma certa atitude de deus Término, e as ciências sejam obra do movimento humano, como tens de ser medalhão mais tarde, convém tomar as armas do teu tempo. E de duas uma: - ou elas estarão usadas e divulgadas daqui a trinta anos, ou conservar-se-ão novas; no primeiro caso, pertencem-te de foro próprio; no segundo, podes ter a coquetice de as trazer, para mostrar que também és pintor. De outiva, com o tempo, irás sabendo a que leis, casos e fenômenos responde toda essa terminologia; porque o método de interrogar os próprios mestres e oficiais da ciência, nos seus livros, estudos e memórias, além de tedioso e cansativo, traz o perigo de inocular idéias novas, e é radicalmente falso. Acresce que no dia em que viesses a assenhorear-te do espírito daquelas leis e fórmulas, serias provavelmente levado a empregá-las com um tal ou qual comedimento, como a costureira esperta e afreguesada, - que, segundo um poeta clássico, Quanto mais pano tem, mais poupa o corte, menos monte alardeia de retalhos; e este fenômeno, tratando-se de um medalhão, é que não seria científico. 
- Upa! que a profissão é difícil! 
- E ainda não chegamos ao cabo. 
- Vamos a ele. 
- Não te falei ainda dos benefícios da publicidade. A publicidade é uma dona loureira e senhoril, que tu deves requestar à força de pequenos mimos, confeitos, almofadinhas, coisas miúdas, que antes exprimem a constância do afeto do que o atrevimento e a ambição. Que D. Quixote solicite os favores dela mediante, ações heróicas ou custosas, é um sestro próprio desse ilustre lunático. O verdadeiro medalhão tem outra política. Longe de inventar um Tratado científico da criação dos carneiros, compra um carneiro e dá-o aos amigos sob a forma de um jantar, cuja notícia não pode ser indiferente aos seus concidadãos. Uma notícia traz outra; cinco, dez, vinte vezes põe o teu nome ante os olhos do mundo. Comissões ou deputações para felicitar um agraciado, um benemérito, um forasteiro, têm singulares merecimentos, e assim as irmandades e associações diversas, sejam mitológicas, cinegéticas ou coreográficas. Os sucessos de certa ordem, embora de pouca monta, podem ser trazidos a lume, contanto que ponham em relevo a tua pessoa. Explico-me. Se caíres de um carro, sem outro dano, além do susto, é útil mandá-lo dizer aos quatro ventos, não pelo 
fato em si, que é insignificante, mas pelo efeito de recordar um nome caro às afeições gerais. Percebeste? 
- Percebi. 
- Essa é publicidade constante, barata, fácil, de todos os dias; mas há outra. Qualquer que seja a teoria das artes, é fora de dúvida que o sentimento da família, a amizade pessoal e a estima pública instigam à reprodução das feições de um homem amado ou benemérito. Nada obsta a que sejas objeto de uma tal distinção, principalmente se a sagacidade dos amigos não achar em ti repugnância. Em semelhante caso, não só as regras da mais vulgar polidez mandam aceitar o retrato ou o busto, como seria desazado impedir que os amigos o expusessem em qualquer casa pública. Dessa maneira o nome fica ligado à pessoa; os que houverem lido o teu recente discurso (suponhamos) na sessão inaugural da União dos Cabeleireiros, reconhecerão na compostura das feições o autor dessa obra grave, em que a "alavanca do progresso" e o "suor do trabalho" vencem as "fauces hiantes" da miséria. No caso de que uma comissão te leve a casa o retrato, deves agradecer-lhe o obséquio com um discurso cheio de gratidão e um copo d'água: é uso antigo, razoável e honesto. Convidarás então os melhores amigos, os parentes, e, se for possível, uma ou duas pessoas de representação. Mais. Se esse dia é um dia de glória ou regozijo, não vejo que possas, decentemente, recusar um lugar à mesa aos reporters dos jornais. Em todo o caso, se as obrigações desses cidadãos os retiverem noutra parte, podes ajudá-los de certa maneira, redigindo tu mesmo a notícia da festa; e, dado que por um tal ou qual escrúpulo, aliás desculpável, não queiras com a própria mão anexar ao teu nome os qualificativos dignos dele, incumbe a notícia a algum amigo ou parente. 
- Digo-lhe que o que vosmecê me ensina não é nada fácil. 
- Nem eu te digo outra coisa. É difícil, come tempo, muito tempo, leva anos, paciência, trabalho, e felizes os que chegam a entrar na terra prometida! Os que lá não penetram, engole-os a obscuridade. Mas os que triunfam! E tu triunfarás, crê-me. Verás cair as muralhas de Jericó ao som das trompas sagradas. Só então poderás dizer que estás fixado. Começa nesse dia a tua fase de ornamento indispensável, de figura obrigada, de rótulo. Acabou-se a necessidade de farejar ocasiões, comissões, irmandades; elas virão ter contigo, com o seu ar pesadão e cru de substantivos desadjetivados, e tu serás o adjetivo dessas orações opacas, o odorífero das flores, o anilado dos céus, o prestimoso dos cidadãos, o noticioso e suculento dos relatórios. E ser isso é o principal, porque o adjetivo é a alma do idioma, a sua porção idealista e metafísica. O substantivo é a realidade nua e crua, é o naturalismo do vocabulário. 
- E parece-lhe que todo esse ofício é apenas um sobressalente para os deficits da vida? 
- Decerto; não fica excluída nenhuma outra atividade. 
- Nem política? 
- Nem política. Toda a questão é não infringir as regras e obrigações capitais. Podes pertencer a qualquer partido, liberal ou conservador, republicano ou ultramontano, com a cláusula única de não ligar nenhuma idéia especial a esses vocábulos, e reconhecer-lhe somente a utilidade do scibboleth bíblico. 
- Se for ao parlamento, posso ocupar a tribuna? 
- Podes e deves; é um modo de convocar a atenção pública. Quanto à matéria dos discursos, tens à escolha: - ou os negócios miúdos, ou a metafísica política, mas prefere a metafísica. Os negócios miúdos, força é confessá-lo, não desdizem daquela chateza de bom-tom, própria de um medalhão acabado; mas, se puderes, adota a metafísica; - é mais fácil e mais atraente. Supõe que desejas saber por que motivo a 7ª companhia de infantaria foi transferida de Uruguaiana para Canguçu; serás ouvido tão-somente pelo ministro da guerra, que te explicará em dez minutos as razões desse ato. Não assim a metafísica. Um discurso de metafísica política apaixona naturalmente os partidos e o público, chama os apartes e as respostas. E depois não obriga a pensar e descobrir. Nesse ramo dos conhecimentos humanos tudo está achado, formulado, rotulado, encaixotado; é só prover os alforjes da memória. Em todo caso, não transcendas nunca os limites de uma invejável vulgaridade. 
- Farei o que puder. Nenhuma imaginação? 
- Nenhuma; antes faze correr o boato de que um tal dom é ínfimo. - Nenhuma filosofia? 
- Entendamo-nos: no papel e na língua alguma, na realidade nada. "Filosofia da história", por exemplo, é uma locução que deves empregar com freqüência, mas proíbo-te que chegues a outras conclusões que não sejam as já achadas por outros. Foge a tudo que possa cheirar a reflexão, originalidade, etc., etc. 
- Também ao riso? 
- Como ao riso? 
- Ficar sério, muito sério... 
- Conforme. Tens um gênio folgazão, prazenteiro, não hás de sofreá-lo nem eliminá-lo; podes brincar e rir alguma vez. Medalhão não quer dizer melancólico. Um grave pode ter seus momentos de expansão alegre. Somente, - e este ponto é melindroso... 
- Diga... 
- Somente não deves empregar a ironia, esse movimento ao canto da boca, cheio de mistérios, inventado por algum grego da decadência, contraído por Luciano, transmitido a Swift e Voltaire, feição própria dos cépticos e desabusados. Não. Usa antes a chalaça, a nossa boa chalaça amiga, gorducha, redonda, franca, sem biocos, nem véus, que se mete pela cara dos outros, estala como uma palmada, faz pular o sangue nas veias, e arrebentar de riso os suspensórios. Usa a chalaça. Que é isto? 
- Meia-noite. 
- Meia-noite? Entras nos teus vinte e dois anos, meu peralta; estás definitivamente maior. Vamos dormir, que é tarde. Rumina bem o que te disse, meu filho. Guardadas as proporções, a conversa desta noite vale o Príncipe de Machiavelli. Vamos dormir. 
(Machado de Assis)


sábado, 14 de dezembro de 2013

Distorções Cognitivas: 8 ou 80

Há algum tempo venho estudando as Distorções Cognitivas, conceito essencial da Terapia Cognitivo-Comportamental criada por Aaron Beck. Nessa abordagem, percebemos que nossos pensamentos nem sempre são interpretações fidedignas da realidade, e disso vem o termo distorção. Quem nunca interpretou os fatos de maneira distorcida? Todos nós, né? Algumas pessoas tendem a exagerar mais do que as outras, e é lógico que temos nossas distorções favoritas também. Percebi que tenho uma tendência ao Pensamento Dicotômico, fenômeno onde avaliamos as pessoas ou coisas em termos de tudo ou nada. É um mecanismo injusto e bastante opressivo, que causa sofrimento a quem o possui e aborrecimentos aos que são "julgados" impiedosamente. Mas como foi que percebi isso de maneira clara?
Bem, vou resumir minha experiência: conheço uma professora de Música que não sabe ler partituras. Isso me incomoda bastante e vivo falando mal da criatura por causa disso. Toda vez que alguém vem me falar dela, a primeira coisa que respondo é: "A Fulana?? Afff, é uma farsa, nem ler partituras ela sabe!". Daí, estudando, fui tentar descobrir o motivo de tanta fúria. Então, raciocinando, pude perceber que minha implicância e animosidade eram por motivos PESSOAIS contra a moça em questão, não quanto ao fato de ela saber ou não ler partituras. Afinal de contas, tenho um amigo que é professor de violão e não sabe ler uma linha na pauta. Juro pra vocês que nunca vi ninguém tocar tão bem ao vivo, ele é um exímio músico e eu o admiro muito. No entanto, ele não lê partituras. O Paul McCartney, por sua vez, é considerado por mim o maior compositor de todos os tempos. É meu ídolo, meu músico preferido. Sou fã número 1 do cara. Ele sabe ler partituras? Não sabe. Sendo assim, por que crucificar a rapariga que também não lê? Eu estava sendo incoerente, não?




A explicação é simples: essa moça me maltratou algumas vezes. Humilhou alguns colegas de trabalho meus, mentiu descaradamente na minha presença em diversas situações e é expert em Marketing Pessoal, coisa que me irrita muito. Tradução: não gosto da sujeita e usei uma fraqueza que ela tem para detonar a minha ira. Percebe? E o mais impressionante é que as pessoas fazem isso o tempo todo! (inclusive eu, não estou me eximindo da culpa, não! rs)
Bem, vamos examinar essas ideias. Existe um fenômeno chamado Cisão. Em linhas gerais, é definir uma coisa como totalmente boa ou totalmente má. Não existem nuances; ou uma coisa (ou pessoa) é o máximo ou é um lixo total. Algumas vezes, esse mecanismo de defesa é usado para que o indivíduo não enxergue a realidade como ela é, pois naquele momento, a verdade, para ele, pode ser muito dolorosa. Geralmente, pessoas que sofrem com isso não conseguem separar o joio do trigo, colocam tudo no mesmo saco e bloqueiam qualquer outra informação que possa coexistir ou mudar sua visão dos fatos. Os adolescentes costumam agir assim em muitas situações. Uma banda é a melhor do universo ou é um lixo, o professor Fulano é um gênio ou uma besta quadrada, eu sou linda ou sou horrorosa, não há meio-termo. A distorção cognitiva chamada Pensamento Dicotômico também atua na mesma linha, ou seja, ou as coisas são 100% boas ou 100% péssimas. Não há perdão nos julgamentos, ninguém pode errar nunca, um erro mínimo desqualifica uma pessoa ou coisa totalmente, sem chance de uma revisão. Siclano é considerado inteligente por mim, aí ele escreve uma palavra com um erro de grafia e pronto: ele é um burro, um retardado, um incapaz e NADA do que ele fez antes é considerado. Condenação total! Meu namorado sempre foi um santo comigo, mas aí ele olhou para as pernas de uma periguete na rua e BUM! Acabou, vou me separar, ele é um pervertido sem cura! Beltrana cozinha super bem, mas um dia ela salgou demais o feijão. Pronto! Acabou, Beltrana é uma mula e cozinha muito mal, como pode ter a CORAGEM de servir esse lixo de comida para os outros?
Descrevendo assim, a coisa parece cômica, mas infelizmente é o que acontece. Na verdade, pessoas que agem assim corriqueiramente são muito exigentes consigo mesmas também e tendem a ficar deprimidíssimas se cometem algum erro. Elas sonham com a perfeição e acham que o mundo ideal poderia existir (Platão que me perdoe, mas o Mundo Ideal é uma quimera inalcançável!). Viver com um chicotinho na mão punindo a si mesmo e aos outros é de uma tremenda presunção, não é mesmo? 
Às vezes fico em dúvida se essa mania de perfeição é um ranço que herdamos da religião. Hoje em dia existem religiões e seitas onde a suposta perfeição do ser humano é incentivada de maneira entusiasmada e intensa. Você tem que ser puro, bonzinho, legal, imaculado, etc etc etc. É claro que devemos sempre tentar evoluir, moral e intelectualmente, mas achar que não PODEMOS cometer nenhum erro NUNCA é um pensamento quase psicótico, me desculpe. Exigir a perfeição própria ou alheia chega a ser algo monstruoso. Quando percebo que estou agindo nesse sentido, sinto uma grande vergonha do meu comportamento. Quem sou eu pra exigir a perfeição dos outros? Eu nunca errei? Eu nunca cometi nenhum engano? Eu sou a pessoa mais inteligente do planeta? Eu sei todas as coisas, no estilo "Estou acordado e todos dormem"? Eu sou totalmente autossuficiente, não preciso de ninguém para me ensinar nada? CLARO QUE NÃO, NÉ?
Há um pequena estratégia para evitarmos esse tipo de mecanismo. O esquema seguinte pode ser utilizado em situações em que perdemos o discernimento e passamos a ser escravos do Pensamento Dicotômico. Devemos, simplesmente, reconhecer nosso pensamento distorcido e tentar atualizá-lo, usando a razão e a coerência. Observe os exemplos:

Exemplo 1:
PENSAMENTO ANTIGO: Não gosto da Fulana porque ela não sabe ler partitura.
PENSAMENTO ATUALIZADO: Não gosto da Fulana porque ela me maltratou, mentiu e tem uma conduta que não me agrada. Posso até falar mal dela, mas usando argumentos justos, afinal, já sou adulta e o Jardim da Infância já acabou FAZ TEMPO!

Exemplo 2:
PENSAMENTO ANTIGO: Escrevi uma palavra sem acento na rede social e todos viram. Sou uma burra, todos os meus diplomas não valem nada e mereço levar uma surra de chicote de rabo de tatu por ter cometido uma gafe tão monstruosa.
PENSAMENTO ATUALIZADO: Sou humana e passível de erros. Não sei todas as coisas. Todo mundo erra e eu não sou o centro do mundo. Claro que alguém vai me julgar e me condenar, mas que se dane! Quem paga a fatura do meu cartão de crédito, afinal?

Exemplo 3:
PENSAMENTO ANTIGO: O Professor Fulano errou um cálculo na lousa. Mas que anta, como ele pode dar aulas? Pelo amor de Deus, por que não demitem esse imbecil? O que ele pode me ensinar se errou um cálculo? Afff, que HORROR!
PENSAMENTO ATUALIZADO: A gente aprende com TODAS as pessoas. Se Fulano errou um cálculo, significa que ele é gente, assim como eu. Nós dois fazemos coco, xixi e já vomitamos muitas vezes na vida. Eu nunca cometi nenhum erro? Por que me acho tão perfeito? O que quero esconder de mim mesmo?

Exemplo 4:
PENSAMENTO ANTIGO: O Jon Bon Jovi já não tem mais a mesma voz de antes. Ele não consegue dar mais aqueles agudos no refrão de "Livin' on a Prayer". LIXO de cantor!
PENSAMENTO ATUALIZADO: Todos envelhecem e não atingir uma nota não desqualifica todo o trabalho que o cara já fez na vida. Eu sou cantora? Canto melhor do que ele? Consigo fazer aquele agudo? É natural que um cara envelheça e perca um pouco da potência da voz. Se eu fosse um cantor, isso também aconteceria comigo.

Enfim, acho que deu pra entender qual é a ideia. Ninguém sabe tudo e não devemos desprezar as pessoas porque elas não preenchem as NOSSAS expectativas do que julgamos ser o adequado. Quando você estiver distorcendo a realidade, tente examinar as raízes mais profundas do seu descontentamento. Muitas vezes, o problema está mais na gente do que no outro!



sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Teste: Como você lida com o inesperado?

Estou lendo um livro chamado Inteligência Emocional - Teste o seu QE, de Siegfried Brockert e Gabriele Braun, e achei nele um teste bem legal para ser compartilhado. Todos sabemos que o inesperado faz parte da vida, certo? Por mais que façamos planos e planejamentos, nem sempre as coisas acontecem da maneira que desejamos. Quando algo inesperado acontece, como você reage? Você perde o controle e se exaspera de maneira intensa ou tenta dar a volta por cima e se adaptar à nova situação?



A vida muitas vezes parece injusta. Como você resolve essas situações? Marque a opção mais aproximada ao seu comportamento:

Um amigo cometeu um erro e pede desculpas. Você o perdoa, porque
1. perdoa sempre;
2. apesar disso, é pessoa querida;
3. uma briga longa traz mais problemas do que o erro que a causou.

Alguém lhe pediu dinheiro emprestado e não dá a mínima para a sua cobrança.
1. desisto de receber;
2. paro de cobrar e faço-lhe uma advertência por escrito;
3. ameaço-a com o meu advogado.

Você esqueceu do aniversário de uma amiga. Por quê?
1. porque sou bagunçado (a) e atrapalhado (a);
2. porque tenho uma memória de galo para aniversários;
3. porque tive um problema realmente sério no dia.

Alguém lhe manda flores. Qual é o seu primeiro pensamento?
1. cuidado! Alguma coisa está querendo!
2. gosto dele (a);
3. todo mundo gosta de mim.

Você prepara uma receita culinária e fica excelente. Você pensa:
1. tive sorte;
2. quando me esforço, dá certo;
3. sou mesmo fantástico (a) na cozinha.

Faz anos que você joga na loto e nunca ganhou nada, porque:
1. não tenho muita sorte na vida, mesmo;
2. os outros têm mais sorte do que eu;
3. é puro acaso.

Seu carro fica cinco minutos num local de estacionamento proibido, enquanto você dá uma corrida até a lavanderia. Ao voltar, você encontra uma papeleta de multa colada no pára-brisa. Isso foi:
1. uma indelicadeza do guarda;
2. chato, mas correto; realmente não se deve parar ali;
3. uma coisa que acontece "nas melhores famílias".

No seu tempo de escola, você foi muito elogiado. Isso era:
1. pura sorte;
2. o reconhecimento de que você realmente se esforçava;
3. a recompensa justa pela sua inteligência.

Seu carro parou no meio da rua por falta de gasolina. Isso só pode ter acontecido porque:
1. sou relaxado com o carro;
2. achei que a gasolina ia dar para chegar ao próximo posto;
3. o carro tem alguma coisa errada.

Você pede um favor a uma criança, mas ela não ouve. Por quê?
1. não sei lidar com crianças;
2. a criança deve estar pensando em outras coisas;
3. as crianças de hoje não ouvem os mais velhos.

Você ouve barulho na casa e chama a polícia. Por sorte, foi um alarme falso. Como é que você se sente?
1. com vergonha do seu medo;
2. um pouco chateado por ter dado à polícia um trabalho desnecessário;
3. orgulhoso (a), porque estava alerta.

Um fumante fica com câncer. Isso é:
1. a justa recompensa para quem leva a vida sem pensar na saúde;
2. uma provação que ele não merecia;
3. um grande azar. Há fumantes que nunca ficam com câncer.

Um esquiador sem experiência cai e quebra a perna. O seguro-saúde dele deveria pagar o tratamento e os dias que ele ficasse sem trabalhar?
1. não. Todo mundo sabe que esquiar é perigoso;
2. em parte. Ele deveria tomar mais cuidado;
3. claro. Toda companhia de seguros sabe que as pessoas praticam esporte.

As agressões ao ambiente são tão comuns hoje que:
1. não se podem mais evitar os danos que a nossa saúde vai sofrer;
2. a humanidade só pode ser salva por uma revolução ecológica mundial;
3. precisamos, cada vez mais, ver muito bem o que comemos e que ar respiramos.

Você acha que um dia não vai haver mais guerras?
1. não. O homem é ruim;
2. sim, mas somente quando tivermos uma ordem mundial realmente justa;
3. não, mas muitas guerras poderiam ser evitadas, se os estados e grupos agressivos soubessem que podem encaminhar melhor os seus interesses pela via pacífica.

Para obter o Resultado, some os números das opções que escolheu.

Mais de 35 pontos: Você encara muito bem os golpes do destino. Quando os problemas se tornam maiores, suas forças também crescem. Nunca perde a esperança de que sempre existe uma solução para a mais complicada das situações. Não fica reclamando dos problemas por muito tempo e prefere buscar soluções. Muita gente perde o ânimo de viver com as más experiências, mas você, não. No máximo, uma ira santa quando o destino bate forte em você ou nas pessoas a quem estima. E dela você tira uma nova energia para enfrentar as dificuldades.

De 25 a 35 pontos: Você revela muita força quando o destino lhe prepara alguma peça. Vê os seus golpes como desafios a serem enfrentados de uma forma especial. Isso você consegue sempre, e muitas pessoas se admiram de como você não entrega os pontos em tempos difíceis. Mas você poderia ter mais sucesso ao enfrentar o inesperado, se encarasse a vida de uma forma mais tranquila. Na verdade, você acredita muito pouco em sorte, em circunstâncias favoráveis, em surpresas boas e, principalmente, no "Dr. Acaso", que às vezes tem melhores remédios para as questões difíceis do que todos os especialistas do mundo.

Menos de 25 pontos: Você precisa de muita força quando o destino o pega de mau jeito. Muitas vezes se pergunta: "Por que sempre comigo? Por que não tenho um pouco mais de sorte?" Você vive se prevenindo contra os golpes do destino, e a sua força está em reconhecer os perigos potenciais antes que eles aconteçam. "Prevenir é melhor do que remediar" é um princípio importante para você. E com isso consegue ficar relativamente a salvo de surpresas. Mas o melhor conselho para você enfrentar uma situação difícil é este: peça auxílio. Você sabe bem disso: nas situações difíceis perdem-se muitos amigos, mas se encontram outros, de cuja existência às vezes nem se desconfiava.


quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Vale a pena suportar o insuportável?

Nesta semana conversei com uma pessoa que está passando por um momento de crise no trabalho. Ela trabalha em um lugar que detesta, exercendo uma função muito aquém de sua capacidade e suporta situações de tensão indescritível. Entretanto, seu salário é excelente comparado ao salário de outros profissionais com a mesma formação. Minha amiga sente dor nas costas, dor de estômago e é dona de uma enxaqueca constante.
Tenho um outro amigo que está com problemas no casamento. Ele se casou com uma moça cuja condição financeira era superior à sua. Graças ao casamento, conseguiu estudar, comprar carro, comprar apartamento. No começo, ele realmente amava a esposa, mas agora, quase 10 anos depois, o amor acabou. Ele quer se separar, mas como dividir um patrimônio que já veio quase pronto sem sair como o vilão da história? Como abrir mão do conforto, da estabilidade financeira e arcar com novas despesas e riscos? As brigas são uma constante entre o casal, e o rapaz é humilhado pela família da moça, já que veio de uma condição sócio-econômica mais baixa. E agora? O que escolher? Sossego, liberdade e a chance de ser realmente feliz com um novo amor ou a estabilidade financeira, as humilhações e as rusgas?


Pois bem, acho que grande parte das pessoas já esteve entre a cruz e a caldeirinha em algum momento da vida. Seja no trabalho, na família ou nos relacionamentos amorosos, sempre há um momento em que aquela situação insuportável se torna realmente insustentável. Geralmente, o que começa como um simples desconforto vai evoluindo até se tornar uma fratura exposta, causando dor, tormento, dúvidas e até mesmo desespero. Chega uma hora em que você tem que escolher: ou manter a situação dolorosa e arruinar sua saúde física e/ou psicológica ou romper com o conhecido e aceitar sair da zona de conforto.
Seres humanos se acostumam facilmente a qualquer coisa, seja ela boa ou ruim. Criamos com muito esmero uma aconchegante zona de conforto em nossas vidas, com a finalidade de manter a sensação de estabilidade e segurança (sim, a SENSAÇÃO somente, pois a grande verdade é que nada é estável e seguro nessa vida!). Mesmo que nossa situação esteja preta, tendemos a manter aquilo a que estamos acostumados. Quantas e quantas vezes você já viu (e continua vendo) pessoas vivendo no limite da sanidade mental mas sem a MENOR coragem de tomar uma decisão, de mudar de vida, de dar um basta? 
Já passei por isso, e tive o meu quinhão de sofrimento também, obviamente. Há alguns anos, eu estava pagando minha pós-graduação e precisava de dinheiro. No começo do ano, a diretora do colégio onde eu trabalhava me ofereceu um bloco de aulas. Eram 18 aulas no Ensino Fundamental I e II. Apesar de não ter muito jeito com crianças pequenas (1º ao 5º ano), aceitei. Comecei o ano letivo e em poucos dias me vi numa situação esmagadora: apesar de as crianças pequenas me adorarem e serem muito carinhosas comigo, eu me estressava de uma maneira inenarrável durante as aulas. As crianças são bonitinhas e tal, mas junte 30 delas numa sala e tente ensinar-lhes Inglês, rs... Claro que nunca maltratei nenhum aluno pequeno, mas o esforço que tive que fazer para me controlar e chegar ao final do ano foi hercúleo. Pensei em largar as aulas em julho; minha conduta extremamente "caxias" não me permitiu fazê-lo. Eu ganhava muito bem nesse colégio, a grana era boa mesmo, mas a que preço mantive esse salário? No final do ano tive que gastar grande parte do dinheiro que ganhei com médicos, exames e remédios, pois tive uma crise de gastrite horrenda e passei muito mal. Aí fica a pergunta: VALEU A PENA?
Sempre achei que não podemos ser moles, indolentes, mimados. O desconforto faz parte da vida, é verdade, mas suportar mais do que você aguenta é uma roleta russa, não tem jeito. No exemplo citado acima, percebi que não aguentaria mais um ano com os pequenos. Passei as aulas para outro professor e segui lecionando para os mais velhos. Mas e se eu continuasse? Que malefícios poderiam ocorrer à minha saúde física e mental?



Em todas as atividades e relacionamentos, devemos esperar um certo grau de desentendimento e frustração. O mundo não é perfeito, as pessoas são falíveis (todos nós) e coisas desagradáveis acontecem. É evidente que não podemos desistir de uma meta ou atividade no primeiro obstáculo. Porém, seguir dando murro em ponta de faca é um ato de desamor para conosco. Continuar comendo arroz com pedra é de um masoquismo incrível! Não sei como as pessoas suportam passar por tanto stress!
Claro que uma pessoa que tem filhos para sustentar, por exemplo, não pode escolher muito e às vezes tem que engolir alguns sapos, pois tem dependentes para criar (mesmo assim isso é relativo, eu acho que a pessoa SEMPRE tem o poder de escolha, basta ter coragem para encarar as consequências). Uma pessoa sem filhos e sem grandes despesas tem muito mais facilidade para se demitir ou para se divorciar. Isso é óbvio. Uma pessoa que tem filhos não pode simplesmente se demitir ou se divorciar, pois terá que sustentar seus dependentes por pelo menos 20 anos. Mas mesmo assim... será que o indivíduo está condenado a viver numa única situação/emprego/relacionamento a vida toda? Pense comigo: você tem que aturar seu emprego ou seu cônjuge para sempre, mesmo se sentindo extremamente infeliz e insatisfeito? Mesmo? Onde isso está escrito? Isso é lei? Você está mesmo condenado a prolongar seu sofrimento indefinidamente? Por quê? Quem decidiu isso por você? E por que você aceita ser infeliz?
As coisas não duram para sempre. Devemos sempre buscar a satisfação nas nossas atividades, sem dúvida. Se depois de tentar por um bom tempo prosseguir com algo que lhe deixa muito infeliz você decidir tomar a coragem de romper com o conhecido e construir uma nova vida, parabéns! Você tem autoestima, você tem coragem, você se ama e se respeita verdadeiramente. Existem milhões e milhões de outros empregos no mundo. Existem milhões e milhões de pessoas legais que podem lhe trazer muita alegria e satisfação no amor. Existem bilhões de oportunidades no mundo lá fora, é só você DECIDIR ir buscá-las. Dinheiro a gente ganha e gasta (com parcimônia, é claro!), mas o tempo que a gente já viveu não volta mais. O tempo escoa pelas mãos, sem parar. Quanto tempo da sua vida você ainda vai perder insistindo em algo que não vai dar certo? Se o seu emprego é péssimo, você realmente acha que vai ter conserto? Se o seu cônjuge não é a pessoa que lhe traz a felicidade que você merece, você acha que ele vai mudar só porque você quer? Não seria mais adulto arregaçar as mangas e buscar aquilo que você deseja?

Repetindo: é claro que não devemos abandonar pessoas e empregos ao primeiro sinal de desconforto, mas sugiro que você se dê um prazo para ver se as coisas melhoram ou não. Faça um arranjo consigo mesmo, algo como "Se a situação aqui não melhorar em 6 meses, vou embora mesmo, sem desculpas esfarrapadas". Faça esse acordo com você mesmo e aja! A vida é breve e não devemos perder tempo com aquilo que nos machuca e nos deixa infelizes. Seja adulto, faça um planejamento de ação e AJA!




domingo, 1 de dezembro de 2013

Qual a diferença entre Piano e Teclado?

Você sabe a diferença entre Piano e Teclado? Não? Não faz mal, muita gente também não sabe. Na verdade, essa é uma dúvida muito comum e sempre me perguntam qual a diferença entre esses dois instrumentos musicais. A resposta é bem simples:

PIANO é um instrumento onde temos que trabalhar bastante com as duas mãos, além de usar o pé no pedal de sustentação. Com a mão esquerda, tocamos uma melodia que pode ou não ser complexa (baixo) ou acordes dentro de um certo ritmo. Com a mão direita, fazemos a melodia principal da música. (Existem casos onde essa dinâmica é trocada, também). Os pianos podem ser acústicos ou digitais. Veja:

Piano Acústico de Cauda

Piano Acústico - Modelo Armário

Piano Digital



TECLADO é um instrumento eletrônico que contém o som de vários instrumentos, como violão, guitarra, violino, saxofone, etc. Quando tocamos Teclado, não precisamos fazer uma mão esquerda muito elaborada, pois tocaremos somente acordes prontos. Geralmente os Teclados vêm com vários tipos de acompanhamentos e ritmos, além de músicas pré-programadas. Veja:




Para exemplificar melhor, vejamos os vídeos:

- Nesse primeiro vídeo, o rapaz (o Vinheteiro, ele é ótimo!), toca Piano fazendo o ritmo com a mão esquerda usando acordes. A mão esquerda não é extremamente elaborada, é só um acompanhamento. Com a mão direita, ele faz a melodia e, em alguns momentos, faz acordes também, mas para fazer os vários backing vocals da música original:


Já neste outro exemplo, ele toca seguindo o mesmo padrão: Melodia na mão direita e acompanhamento na esquerda. Show de bola! Nossa música brasileira é realmente espetacular!



- Nesse próximo vídeo, o trabalho da mão esquerda é mais intenso. Perceba que há uma melodia nas notas graves, não um simples acompanhamento:


- Quer complicação? Veja a fantástica La Campanella, uma das músicas de maior dificuldade de execução na história do piano erudito:


Agora vamos ver algumas músicas executadas no Teclado:

- Veja como várias vozes são reproduzidas, além da bateria e de efeitos especiais diversos (muuuito legal!):


- Veja mais um exemplo cheio de efeitos especiais:


Teclados são instrumentos de apoio muito importantes dentro de bandas também. Diversos artistas usam os sons diversos e os efeitos dos teclados para incrementar os arranjos.

- Veja 3 exemplos de músicas onde o Teclado e seus efeitos são muito usados:





 - Uma das primeiras músicas a usar o Teclado eletrônico foi All my Love, do Led Zeppelin. Esse solo é inesquecível:


Como podemos ver, os Pianos e Teclados são usados em muitos gêneros musicais, tanto no erudito quanto no popular. Cada um tem o seu encanto, mas ambos são maravilhosos e fascinantes (pelo menos pra mim). São instrumentos deliciosos para o estudo e é óbvio que tocar Piano é mil vezes mais difícil do que tocar Teclado, né? 
Mas e o Órgão? 
Bem, existem vários tipos de órgãos e eles são bem bacanas também. Só que isso é assunto para outro post! rs

sábado, 9 de novembro de 2013

Regressão de Idade pela Hipnose

Regressão de Idade pela Hipnose: Uma História Verdadeira

Lembranças de Natais Passados?
O que podemos depreender de um competente estudo de Robert True (1949)? Ele fez voluntários hipnotizados regredirem a seus Natais e festas de aniversários aos 10, 7 e 4 anos de idade. Em cada caso, perguntou em que dia da semana caíra. Sem hipnose, a chance de uma pessoa poder indicar de imediato o dia de um evento há muito passado é de 1 em 7. De maneira extraordinária, as respostas da maioria dos hipnotizados foram 82 por cento corretas.
Outros pesquisadores foram incapazes de reproduzir os resultados de True. Quando Martin Orne (1982) perguntou a True por quê, ele respondeu que a Science, a publicação em que saiu seu artigo, encurtara a pergunta fundamental para "Que dia da semana é?". Na verdade, ele perguntara às pessoas sob regressão de idade: "É segunda-feira?, É terça?" e assim por diante, até a pessoa responder com um sim. Quando Orne indagou se ele sabia o dia da semana ao fazer a pergunta, True respondeu que sim, mas não entendia por que Orne queria saber.
Você sabe por quê? O experimento de True parece ser um ótimo exemplo de como o hipnotizador pode sutilmente influenciar a memória do hipnotizado (e, de um modo mais geral, como os pesquisadores podem sutilmente comunicar suas expectativas). "Tendo em vista a ansiedade do hipnotizado em atender aos pedidos que lhe são feitos", presumiu Orne, é preciso apenas uma mínima mudança de inflexão ao perguntar "É quarta-feira?" para que a pessoa responda "Sim".
O golpe final do experimento de True ocorreu quando Orne perguntou a crianças de 4 anos que dia da semana era. Para sua surpresa, nenhuma sabia. Se crianças de 4 anos geralmente não sabem qual é o dia da semana, então os adultos de True forneciam uma informação que provavelmente não conheciam quando tinham 4 anos.

Lembranças de Vidas Passadas?

Se as regressões hipnóticas à infância são em parte imaginárias, então até que ponto se pode acreditar nas alegações de "regressão a vidas passadas" sob hipnose? Os 20 a 30 por cento de americanos que acreditam na reencarnação (Gallup & Newport, 1991; George, 1996) encontram apoio para esses relatos? Os 36 por cento de estudantes universitários estavam corretos ao concordarem, numa pesquisa de Scott Brown e outros (1996), que "certas pessoas podem regredir na idade até recordar vidas passadas"?
Nicholas Spanos (1987-1988; Spanos & outros, 1991) relatou que pessoas propensas a fantasias, que acreditam em reencarnação, quando hipnotizadas oferecem vívidos detalhes de "vidas passadas". Mas quase sempre informam terem sido da mesma raça... a menos que o pesquisador tenha ressaltado que raças diferentes são comuns. Relatam com frequência terem sido alguém famoso, e não umas das incontáveis pessoas comuns. Alguns contradizem outros ao alegarem terem sido a mesma pessoa, como o rei Henrique VIII (Reveen, 1987-1988). Além disso, geralmente não sabem coisas que qualquer pessoa daquela época histórica saberia. Uma pessoa que "regrediu" para uma "vida anterior" como um piloto de caça japonês, em 1940, não foi capaz de dizer qual era o nome do imperador do Japão e não sabia que o Japão já estava em guerra. Portanto, as regressões hipnóticas a vidas passadas não oferecem qualquer prova verossímil de reencarnação.



(Texto retirado do livro Introdução à Psicologia Geral - David Myers - página 159 - 5ª edição)

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Você vive esperando a aprovação dos outros?

"Quem precisa que os outros lhe deem incentivos, elogios e tapinhas nas costas, faz dos outros os seus juízes."

Essa citação do alemão Fritz Perls, um dos fundadores da Gestalt-terapia, sintetiza diversos conceitos importantes para nós, seres humanos em busca de reconhecimento e aprovação. Quantas vezes você se chateou por não obter das pessoas o feedback que julgava merecer? Quantas vezes ficou esperando elogios e recebeu críticas? O mundo é terrível e injusto ou foi você quem criou expectativas demais em relação à reação dos outros?

Desde crianças somos adestrados a sermos bonzinhos. Os comportamentos "ajustados" e pacíficos são reforçados com beijinhos, palmas e elogios e os "negativos" são punidos com caras feias, sermões, castigos ou até mesmo surras. Nossos pais são nossos primeiros "professores", depois vêm a escola e o mundo do trabalho. Isso é errado? Não totalmente. As crianças precisam de limites, isso é óbvio. Impor limites e disciplina faz parte do processo educacional. Mas e quando os pais criam filhos frouxos, molengas, mentirosos, falsos, dependentes? É válido? É correto ensinar uma criança a ser sempre obediente e cordata, independente da situação em que ela se encontra?
Somos criaturas sociais e construímos nossa identidade observando os outros. Os feedbacks que as pessoas nos dão formam mesmo uma grande parte da nossa personalidade. Isso tem um lado positivo e outro negativo, como todas as coisas. Uma criança que sempre recebe feedback negativo dos pais terá uma grande chance de desenvolver complexos. Já outra que sempre recebe apoio total e irrestrito será um déspota, provavelmente.
Todos nós queremos elogios, sorrisos, reconhecimento. É muito legal fazer uma coisa boa e ser congratulado por isso, não é? Claro que é! Quem não gosta de ser elogiado? Não há nada de mal nisso. O problema é quando ficamos dependentes dos elogios e da aprovação dos outros. A coisa fica feia quando mudamos nosso comportamento natural a fim de obter o reconhecimento das pessoas e, muitas vezes, de pessoas que não têm a menor importância em nossas vidas!
Grande parte das coisas que as pessoas fazem são feitas para impressionar a sociedade. Se você observar, tem gente que faz qualquer coisa para chamar a atenção. Mulheres mudam seus corpos, suas personalidades e até mesmo assumem despesas enormes só para conseguir um marido. Homens investem tempo e dinheiro na construção de uma carreira com o intuito de atrair um grande número de mulheres dispostas a tudo por atenção. Pessoas somatizam doenças para serem notadas. Meninas de 15 anos postam fotos seminuas no Facebook para receber muitos likes. Pessoas maduras postam fotos de suas viagens, suas casas, seus netos. Enfim, o que antes era um fenômeno suave foi elevado à enésima potência depois da criação das redes sociais. A gente vê esse tipo de coisa e pensa: "Onde isso tudo vai parar?"
Na grande maioria das vezes, as pessoas não nos dão o retorno que esperávamos. Isso acontece muito com o "solícito", aquele tipo sempre gentil e disponível para fazer favores a quem quer que seja. Essas pessoas tão "generosas" se sacrificam para ajudar os outros e depois, ao não receber o feedback imaginado, se magoam, choram, ficam chateadas e às vezes fazem cobranças descabidas, sem o menor constrangimento. "Como você pode fazer isso comigo? Lembra aquele dia que te comprei um chiclete Ploc de hortelã? E a minha polaina novinha que você pegou emprestada e não devolveu? Como você pode ser tão ingrato? Eu faço de tudo pra te agradar e é assim que você retribui?"
Essas novelinhas trágicas onde um é a vítima e o outro é o folgado são clássicas. O que não entendo é por que as pessoas ainda continuam esperando a retribuição pelos favores que fazem. Sim, sim, sei que a religião influi muito, sei que as pessoas querem ser vistas como "gente boa", sei que estamos na era do "politicamente correto". Mas cadê aquela história linda de que devemos "Fazer o bem sem olhar a quem"? Por que nos chateamos quando as pessoas não fazem exatamente aquilo que nós planejamos?

Existem pessoas que vivem com o intuito de provarem para os outros como elas são boas, legais, íntegras, calmas, pacíficas, gentis, solícitas. Essas pessoas criam personagens lindos e perfeitos, imaculados e utópicos. Entretanto, lá no fundo, nada disso é verdade. É aí que surgem os conflitos internos. A máscara da pessoa é tão divina que se torna fixa. Uma tensão insuportável é criada porque o indivíduo não pode expressar aquilo que ele realmente é, mas somente o que é esperado dele. É ou não é uma prisão horrenda? Daí, quando os outros não reconhecem e não aplaudem o personagem "bonzinho", a pessoa tem um chilique. "Depois de TUDO o que eu passei, COMO PODE Fulano não fazer o que eu quero?"

"O Bom Samaritano", pintura de George Frederic Watts (1904).

"Nunca somos nós mesmos quando há plateia."
(Milan Kundera)

Na minha opinião, a solução para esses impasses é cada um viver a sua vida sem esperar o reconhecimento e a retribuição dos outros. Você quer ajudar alguém? Vá lá e ajude, mas sem ficar esperando o pagamento daquilo que você fez. Você acha que você tem uma característica bacana, legal, interessante? Ótimo, invista nisso, mas sem esperar que a plateia reconheça e bata palminhas pra você. Os outros dizem que você é incapaz de fazer algo? Faça ouvidos moucos e aja como quiser, sem se importar com a opinião alheia. Seja seu próprio ponto de referência, não aceite os rótulos que as pessoas colocaram em você ao longo dos anos. Valorize os elogios sinceros das pessoas que são importantes para você e ignore o resto. E principalmente: perceba que as opiniões dos outros são somente opiniões, não a verdade absoluta. Logo, receber 180 likes na sua foto de perfil do Facebook não prova que você é uma pessoa fantástica, assim como não receber os parabéns por ter feito algo realmente importante na vida não o torna um fracassado. A Realidade não existe, o que existe são interpretações dos fatos e é evidente que cada pessoa os interpretará a seu bel-prazer. Você não pode comandar a mente alheia, então relaxe e viva sua vida fazendo o que VOCÊ quer fazer, não o que os outros esperam que você faça.



sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Dica de Filme: O segredo dos seus olhos

Um dos melhores filmes que vi nos últimos tempos foi o argentino O Segredo dos Seus Olhos, de 2009. Vários amigos e amigas me haviam recomendado o título, e quando assisti percebi que o filme é realmente excelente!

 


Sinopse

Benjamin Esposito (Ricardo Darín) se aposentou recentemente do cargo de oficial de justiça de um tribunal penal. Com bastante tempo livre, ele agora se dedica a escrever um livro. Benjamin usa sua experiência para contar uma história trágica, a qual foi testemunha em 1974. Na época o Departamento de Justiça onde trabalhava foi designado para investigar o estupro e consequente assassinato de uma bela jovem. É desta forma que Benjamin conhece Ricardo Morales (Pablo Rago), marido da falecida, a quem promete ajudar a encontrar o culpado. Para tanto ele conta com a ajuda de Pablo Sandoval (Guillermo Francella), seu grande amigo, e com Irene Menéndez Hastings (Soledad Villamil), sua chefe imediata, por quem nutre uma paixão secreta.







Gostei muito mesmo desse filme. Achei a atuação do elenco bastante expressiva, a trama é muito bem amarrada e o final foi surpreendente. Eu adoro enredos policiais e investigação de crimes, acho que sou uma detetive frustrada, hehehe. A história tem ritmo, em nenhum momento me senti entediada. O desfecho do "romance" entre Benjamin e Irene foi bastante realista e sensato. Muito bom mesmo, super recomendo!


Veja o trailler:





As frases que mais me chamaram a atenção nessa história foram:

“Não quero deixar passar tudo de novo. Como pode ser? Como é possível que não fiz nada? Há vinte e cinco anos que me pergunto e há vinte e cinco anos que respondo a mim mesmo: foi outra vida, já passou. Não pergunte, não pense. Não foi outra vida, foi esta. É esta. Agora que entendi tudo, como se faz para viver uma vida vazia? Como se faz para viver uma vida cheia de “nada”?” 

"Os estúpidos se conservam melhor fisicamente porque não são corroídos pela ansiedade existencial a qual as pessoas mais ou menos lúcidas se vêem submetidas."

"Um homem pode mudar tudo na sua vida, sua casa, sua família, seu emprego, seu Deus, mas não pode mudar sua paixão."

Pois é, é um filme que fala sobre paixão e vingança, mistério e questionamento sobre o sentido da vida. É uma história que merece ser vista, analisada e admirada. Fora o sotaque argentino, que é um charme à parte, né? Nota dez!

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

A Mulher das Bofetadas

Chegou atrasado no emprego. Tirava o paletó, quando o Carvalhinho veio avisar:
— Olha, telefonaram pra ti.

— Homem ou mulher?

— Mulher.
— Deixou recado?
— Não. Disse que telefonava depois. Arregaçando as mangas, bufou:
— ok! ok!
Uns dez minutos depois, estava pondo em ordem uns pa­péis, quando o telefone bate novamente. O contínuo, que aten­deu, berrou:
— Aristides!
Larga o serviço e apanha o telefone. Era uma voz feminina que, a princípio, não identificou. A pessoa perguntava: — “Não me conheces mais?”. Aristides, já impaciente, foi quase gros­seiro:
— Quer dizer quem fala? Estou ocupadíssimo e não posso perder tempo.
Há uma pausa e, finalmente, a voz responde:
— Sou Dorinha.
Aristides quase cai para trás, duro.
Dorinha era o seu amor jamais esquecido ou, melhor, a sua dor-de-cotovelo confessa e imortal. Que idade teria ela, no momento? Uns vinte e cinco anos. Tinham se namorado na adolescência. Por um motivo bobo, haviam brigado. E quan­do Aristides, devorado pela nostalgia, quis voltar, ela já estava apaixonada por um outro, o Gouveia. Durante uns seis meses, Aristides andou pensando, dia após dia, em meter uma bala na cabeça. Acabou renunciando ao suicídio, mas ficou-lhe, para sempre, o sofrimento surdo. Dorinha casara-se com o Gouveia, tinha dois filhos de Gouveia. E sempre que a via, acidentalmente, na rua, Aristides precisava tomar um pileque dantesco. E, súbi­to, ela telefona, a inesquecível, a insubstituível Dorinha! Ao im­pacto da surpresa, gagueja:
— Ah, como vai você?
— Bem. E você?
— Navegando.
E, então, Dorinha diz-lhe:
— Preciso muito falar contigo.
— Comigo? E quando?
— Já.
— Pois não. Estou às tuas ordens. — E, na sua ternura so­frida, pergunta: — Tu sabes que mandas em mim, não sabes?
Combinaram o encontro, para daí a vinte minutos, numa sorveteria da rua da Carioca.
Aristides largou o serviço, que estava atrasadíssimo, e correu para o elevador. Daí a dez minutos, estava no local. Encontrou-a mais linda, mais fresca do que nunca. Diante da mulher que nun­ca deixara de amar, não se conteve. Com o coração disparan­do, começou:
— Sou todo teu. Nunca deixei de te amar.
Tomando refresco, com canudinho, Dorinha vai falando:
— Eu preciso de um favor teu. Mas quero que prometas que não pensarás mal de mim.
O espanto do rapaz foi uma coisa sincera e profunda:
— Você acha que eu posso fazer má idéia de ti? Oh, Do­rinha!
Então, sem desfitá-lo, Dorinha disse:
— Meu marido partiu hoje, ao meio-dia, para São Paulo. De hoje para amanhã, eu sou uma espécie de solteira ou, então, de viúva. De qualquer maneira, uma mulher livre. Pensei em você, que merece toda a minha confiança e… Está compreendendo?
Numa confusão total, balbuciou:
— Mais ou menos.
E ela:
— Para falar português claro: — estou oferecendo a minha tarde. Leva-me!
Deslumbrado, exclama:
— Oh, Dorinha!
Ele pagou, trêmulo, a despesa.
Saem e, lá fora, Dorinha observa:
— Mas não devo me expor. Arranja um interior, sim?
Acontece que Aristides mantinha, de sociedade com um amigo, um apartamento em Botafogo. Cheio de escrúpulos, bai­xa a voz: — “Eu tenho um lugar, assim, assim, discretíssimo”. Dorinha interrompe: — “Ótimo!”. Tomam um táxi, que ia pas­sando. A caminho de Botafogo, a pequena começa:
— Você, naturalmente, está espantado e querendo uma ex­plicação.
Protesta, veemente:
— Explicação nenhuma! Basta o fato em si! Você está aqui, comigo, a meu lado, e não interessam os motivos, argumentos, nada!
Quando entraram, uns quinze minutos depois, no aparta­mento, Aristides não sabia o que dizer. Ainda uma vez, Dori­nha toma a iniciativa:
— Você não me beija?
Ofereceu-lhe a boca. Aristides experimentou uma espécie de vertigem. O primeiro beijo, depois de tanto tempo, foi uma dessas coisas que marcam para sempre. Em seguida, ele a carre­ga no colo, como uma noiva de fita de cinema. Uma hora e pou­co depois, já a noite entrara no apartamento e Dorinha estava diante do espelho, refazendo a pintura. Aristides veio, por trás, beijar-lhe os ombros nus; e suspira:
— Eu não sabia que gostavas tanto de mim!
Dorinha vira-se, com divertida surpresa:
— Mas eu não gosto de ti.
Atônito, pergunta:
— E isso que aconteceu entre nós? Não conta?
A pequena está de pé:
— Era a explicação que eu queria te dar e que tu recusaste. O meu marido, ontem, discutiu comigo e me deu uma bofeta­da. Estou aqui por causa da bofetada. Mas amo o meu marido e só meu marido.
Ele insiste, desesperado:
— Quer dizer que não vamos continuar?
Responde:
— Depende. Se meu marido me bater outra vez, já sabe: — eu telefono pra ti.
Sem uma palavra, na maior humilhação de sua vida, dei­xou-a partir.
Mas quando a porta fechou-se atrás da pequena, ele caiu, de joelhos, no meio do quarto, mergulhou o rosto nas mãos e soluçou como uma criança.
Durante uma semana, ele foi o ser mais humilhado e mais ofendido da Terra. Dizia de si para si: — “A cínica! A cínica!”. E pior é que era incapaz de sentir atração por qualquer outra mulher. Uns quinze dias depois, ele atende o telefone: — era ela. Perguntava, alegremente:
— Vamos lá, outra vez?
Foram. E, no apartamento, ela suspira:
— Imagina, deu-me outra bofetada.
Encontraram-se outras vezes, sempre em função de novas bofetadas. Até que, uma tarde, entre um beijo e outro, ela ex­clama:
— Os homens são muito burros!
— Por quê?
E Dorinha:
— Tu não percebeste que não houve bofetada nenhuma? Que meu marido não me esbofeteou nunca? E que eu te amo, te amo e te amo?

(Nelson Rodrigues)