sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Você é uma Mulher-Capacho? - Parte 1

Nos últimos dias tenho pensado muito no comportamento atual de algumas mulheres. Estou relendo o livro "Quem me roubou de mim?", do Padre Fábio de Melo (não, não gosto de padres, mas tenho que admitir que este livro é muito bom. É uma obra que fala do sequestro da autonomia nos relacionamentos pessoais, processo que acaba por destruir a identidade e a autoestima da pessoa. Fora alguns poucos comentários de cunho religioso - totalmente dispensáveis - o livro é bastante interessante, de fato.) Fico me perguntando: Por que algumas mulheres aceitam abusos de toda espécie somente para manter um relacionamento que, claramente, está fadado ao fracasso? Por que essa necessidade inexplicável de ser humilhada, rebaixada, agredida? Como pode uma pessoa sentir prazer com a própria degradação?

Explico: Existem homens saudáveis e equilibrados, que sabem tratar uma mulher com respeito e carinho. Esses homens merecem ser amados, respeitados, mimados e tudo mais. Merecem nossos melhores sorrisos e suspiros. Um homem que sabe, realmente, respeitar a individualidade e a identidade de sua parceira merece ser tratado a pão-de-ló. Certo? Sim, claro. Lógico. Mas e aquele cara que usa e abusa de sua namorada/esposa, a tratando mal, debochando de seus gostos, cometendo traições e abusos de toda espécie? O que ele merece?

O grande problema é que nem sempre as mulheres PERCEBEM que estão envolvidas num quadro de abuso. ABUSO não é somente levar uma surra, minha gente. Quando a pancadaria começa é sinal de que uma série de outras bizarrices já aconteceu, é a evidência de que o processo de degradação daquela mulher já avançou, e muito. Ninguém espanca a esposa de um dia para o outro. Como todo tipo de comportamento negativo, as coisas vão acontecendo aos poucos. Hoje, uma piadinha depreciativa. A mulher releva. Amanhã, uma piadinha debochada em público, na frente das pessoas. A mulher perdoa. Quando a coitada se dá conta, está apanhando na cara!
O mais curioso é que a mulher tem uma percepção intuitiva de que algo está errado. Ela vai perdoando, relevando, fazendo vistas grossas para vários tipos de agressões, mas dentro dela há uma voz que diz que aquilo não está certo. Somente nos casos em que a mulher já não tem mais nenhuma gota de autoestima é que não há mal-estar ou questionamentos internos.

Veja os tópicos seguintes e reflita se você ou alguma pessoa próxima está deixando sua vida nas mãos de alguém que, no fundo, não está se importando nem um pouco com seu bem-estar. A Mulher-Capacho costuma agir da seguinte forma:

- Faz do parceiro o centro da sua vida: ela vive em função do namorado/marido. Pensa nele o dia todo, tenta fazer tudo o que ele quer, dispensa sua própria família e amigos para poder passar o máximo de tempo possível com o ser "amado". É fácil identificar a displicência com seus outros relacionamentos; a pessoa se torna indisponível para tudo aquilo que não inclua o homem. Todos os seus interesses se tornam um reflexo dos interesses do "príncipe" e ela tenta, desesperadamente, se encaixar no papel de personagem principal de uma peça que o outro escreveu. Negar a própria essência, as próprias predileções, as próprias raízes é o primeiro passo para o processo de degradação da identidade.  

- Passa todo seu tempo livre com o parceiro: ela some do mapa, ninguém nunca mais consegue marcar um encontro com a Mulher-Capacho. Ela não tem mais amigos, família, lugares favoritos. Tudo se resume em servir o melhor possível a seu mestre e mentor. Parece brincadeira, mas já ouvi a seguinte conversa: "Ah, meninas, não posso bater papo com vocês e demorar para chegar em casa, tenho medo do meu marido conhecer alguém pela internet enquanto estou fora..." Daí vem o pensamento: "Que LIXO de vida é essa, amiga? COMO viver com alguém que não pode ser deixado sozinho por uma hora ou duas?"... Lamentável, né? Outro exemplo que ouvi: "Ah, meu namorado não gosta que eu tenha amigas, ele acha que eu vou traí-lo se sair para almoçar com elas." HELLO? Doença mental, distúrbio psiquiátrico? Que tipo de maluco pensa uma coisa dessas? E que tipo de maluca carente e subserviente aceita isso?

- Tenta agradar seu parceiro a qualquer custo: Daí o cara toca bombardino e você detesta o som deste instrumento. Mas ah, se você aprender a tocar ele vai te amar mais, né? Ou então ele gosta de ler Shakespeare em inglês arcaico e você, de repente, passa a se interessar também, mesmo não tendo a menor inclinação para a leitura. Ou então ele gosta de loiras de cabelo curto, e você corre tingir e cortar seu cabelão que demorou anos para crescer. Personalidade passou longe, hein? É constrangedor ver o quanto as mulheres se rebaixam para impressionar um homem. Em alguns casos, elas se tornam marionetes prontas para serem manipuladas. E o pior é que esse tipo de comportamento é fake, é patético, é indigno de crédito. Somente as pessoas fracas e carentes mudam para agradar Fulano ou Siclano. Seja você mesma. Respeite-se, em primeiro lugar. Não dá para comprar o amor de alguém fingindo ser quem você não é. As pessoas não são cegas nem burras, todos perceberão que você está se rebaixando. 

- Vive para impressionar os outros: leia-se "vive para impressionar as amigas e a família". É muito comum mulheres que sofrem as maiores desconsiderações manterem um relacionamento a fim de impressionar suas amigas ou sua família. Elas acham que tiraram o bilhete premiado e que não podem desistir de um relacionamento que julgam lucrativo (SIM, lucrativo, estamos falando de grana, comodidade, status e regalias!), mesmo que sejam violentadas em sua subjetividade. Elas aguentam firme, engolem mentiras, traições, humilhações, ironias, grosserias e todo tipo de ataques. Imagine só, o que aquela prima invejosa vai pensar se o namoro perfeitinho da Fulana acabar? Ah, não. Melhor comer arroz com pedra do que dar aquele gostinho aos fofoqueiros e invejosos. Aliás, sempre desconfio de pessoas que afirmam serem alvos da "inveja" alheia. Isso é discurso de gente insegura, mal-resolvida e influenciável. Quem se basta, quem tem certeza de seu valor como pessoa está pouco se lixando para a "inveja" e as "fofocas" da plateia. Quem muito se queixa disso quer dar uma de vítima e de superior, o que é completamente fake e ridículo. Outros padrões são identificados em gente que vive para impressionar (os famosos posers): ostentação de objetos/ roupas/ carros/ baladas/ eventos caros, a exposição de sua divertidíssima vidaloka, comportamentos infantis e autodestrutivos, indefinição em definir suas prioridades... Tudo isso é um pedido silencioso de socorro que diz: "Me acho um lixo mas tenho um celular caro, por favor, GOSTE DE MIM!"  ou "Sou semi-analfabeta mas meu marido é bem-sucedido e acabou de comprar um apartamento na Riviera, por favor, ME APROVE" ou ainda "Sou fútil e vazia mas comprei peitos de silicone novinhos, por favor, SEJA MINHA AMIGA!".

- Não tem interesses próprios: não existe nada mais digno de pena do que uma mulher sem interesses na vida. Não digo interesse financeiro e o anseio de ascender socialmente através de um casamento (é isso o que motiva muitas mulheres hoje em dia, infelizmente!), mas interesses genuínos, ou seja, vontade de crescer, de aprender, de ser uma pessoa melhor. Existem mulheres que não têm hobbies, não sabem fazer nada que presta, não sabem conversar, são apenas um belo corpo sem cérebro. Ou talvez nem tão belo assim, hehehe... Claro que os homens ficam com essas por uns tempos, mas mesmo o homem mais fútil e idiota acaba percebendo que está lidando com um pedaço de carne que vai manter a mesma mentalidade tacanha por, no mínimo, vinte ou trinta anos. Uma mulher que acha que uma bolsa cara vale mais do que uma ideia bem fundamentada em sua mente deveria nascer de novo. Todas nós gostamos de roupas, acessórios, sapatos, essas coisas de mulher. Claro, isso é natural. O problema é quando o exterior pesa mais do que interior. Isso estressa. Nenhum relacionamento se segura por causa de um belo rostinho. Por isso, e não só pra segurar um homem, as pessoas em geral deveriam cultivar o objetivo de sempre aprenderem, crescerem, refletirem. Uma mente vazia é facilmente tomada por alguém de personalidade mais forte. 

- Abre mão de suas preferências: mais triste do que alguém sem interesses próprios é alguém que abre mão daquilo que gosta para agradar ao outro. Tudo aquilo de que gostamos e de que não gostamos forma nossa identidade. Nossas vivências, experiências, lembranças, tudo faz parte de quem somos. Deixar de gostar de algo só porque o parceiro não aprova é um comportamento absolutamente imbecil. Uma pessoa que abandona seus afetos por causa de outrem é, sem tirar nem pôr, uma débil mental (parafraseando meu amado Nelson Rodrigues, hehehe). Cada um é o que é e gosta daquilo que melhor lhe aprouver. Tenha vergonha na cara, seja firme, assuma o que você é. Ninguém respeita uma pessoa frouxa.

Bem, falamos até aqui sobre algumas características que são corriqueiras em mulheres que se anulam, mulheres que se largam na mão dos outros, mulheres que servem de capacho para um homem pisar. Em breve postarei a Parte 2 deste texto. Vamos falar sobre atitudes que as mulheres subservientes frequentemente têm em relação ao abuso de seus homens.




UPDATE: Leia a Parte 2 deste texto aqui.




sábado, 24 de novembro de 2012

Casal de Três

O ENCONTRO
O sogro era um santo e patusco cidadão. Assim que o viu arremessou-se, de braços abertos: 
- Como vai essa figura? Bem? 
Filadelfo abraçou e deixou-se abraçar. E rosnou, lúgubre: 
- Essa figura vai mal. 
Espanto do sogro: 
- Por que, carambolas? - E insistia: - Vai mal, por quê? 
Caminhando pela calçada, lado a lado com o velho bom e barrigudo, Filadelfo foi enumerando as suas provações, só comparáveis às de Job: 
- É o gênio de sua filha. Sou desacatado, a três por dois Qualquer dia apanho na cara! 
Dr. Magarão assentiu, grave e consternado: 
- Compreendo, compreendo. - Suspira, admitindo: - Puxou à mãe. Gênio igualzinho. A mãe também é assim! 
Súbito Filadelfo estaca. Põe a mão no ombro do outro; interpela-o: 
- Quero que o senhor me responda o seguinte: isso está certo? É direito? 
O velho engasga: 
- Bem. Direito, propriamente, não sei. - Medita e pergunta: - Você quer uma opinião sincera? Batata? Quer? 
- Quero. 
E o sogro: 
- Então, vamos tomar qualquer coisa ali adiante. Vou te dizer umas coisas que todo homem casado devia saber. 


TEORIA

Entram num pequeno bar, ocupam uma mesa discreta. Enquanto o garçom vai e vem, com uma cerveja e dois copos, dr.Magarão comenta: 

- Você sabe que eu sou casado, claro. Muito bem. E, além da minha experiência, vejo a dos outros. Descobri que toda mulher honesta é assim mesmo. 
Espanto de Filadelfo: 
- Assim como? 
O gordo continua: 
- Como minha filha. Sem tirar, nem pôr. Você, meu caro, desconfie da esposa amável, da esposa cordial, gentil. A virtude é triste, azeda e neurastênica. 
Filadelfo recua na cadeira: 
- Tem dó! Essa não! - E repetia, de olhos esbugalhados, lambendo a espuma da cerveja: - Essa, não! 
Mas o sogro insistiu. Pergunta: 
- Sabe qual foi a esposa mais amável que eu já vi na minha vida? Sabe? Foi uma que traia o marido com a metade do Rio de Janeiro, inclusive comigo! - Espalmou a mão no próprio peito, numa feroz satisfação retrospectiva: - Também comigo! E tratava o marido assim, na palma da mão! 
Uma hora depois, saiam os dois do pequeno bar. Dr. Magarão, com sua barriga de ópera-bufa e bêbado, trovejava: 
- Você deve se dar por muito satisfeito! Deve lamber os dedos! Dar graças a Deus! 
O genro, com as pernas bambas, o olho injetado, resmunga: 
- Vou tratar disso! 



O DESGRAÇADO 

Não mentira ao sogro. Sua vida conjugal era, de fato, de uma melancolia tremenda. Descontado o período da lua-de-mel, que ele estimava em oito dias, nunca mais fora bem tratado. Sofria as mais graves desconsiderações, inclusive na frente de visitas. E, certa vez, durante um jantar com outras pessoas, ela o fulmina, com a seguinte observação, em voz altíssima: 

- Vê se pára de mastigar a dentadura, sim? 
Houve um constrangimento universal. O pobre do marido, assim desfeiteado, só faltou atirar-se pela janela mais próxima. Após três anos de experiência matrimonial, ele já não esperava mais nada da mulher, senão outros desacatos. E só não compreendia que Jupira, amabilíssima com todo mundo, fizesse uma exceção para ele, que era, justamente, o marido. Depois de ter deixado o sogro, voltou para casa desesperado. Chega, abre a porta, sobe a escada e quando entra no quarto recebe a intimação: 
- Não acende a luz! 
Obedeceu. Tirou a roupa no escuro e, depois, andou caçando o pijama, como um cego. E quando, afinal, pôde deitar-se, fez uma reflexão melancólica: há dez meses ou mesmo um ano que o beijo na boca fora suprimido entre os dois. O máximo que ele, intimidado, se permitia, era roçar com os lábios a face da esposa. Se queria ser carinhoso demais, ela o desiludia: "Na boca não! Não quero!". Outra coisa que o amargurava era o seguinte: a negligência da mulher no lar. Não se enfeitava, não se perfumava. Deitado ao seu lado, ele pensava agora, lembrando-se da teoria do sogro: - "Será que a esposa honesta também precisa cheirar mal?". 



MUDANÇA 

Um mês depois, ele chega em casa, do trabalho, e acontece uma coisa sem precedentes: a mulher, pintada, perfumada, se atira nos seus braços. Foi uma surpresa tão violenta que Filadelfo perde o equilíbrio e quase cai. Em seguida, ela aperta entre as mãos o seu rosto e o beija na boca, num arrebatamento de namorada, de noiva ou de esposa em lua-de-mel. Ele apanha o jornal, que deixara cair. Maravilhado, pergunta: 

- Mas que é isso? Que foi que houve? 
Jupira responde com outra pergunta: 
- Não gostou? 
Ele senta confuso 
- Gostar, gostei, mas... - Ri: - Você não é assim, você não me beija nunca. 
Jupira tem um gesto de uma petulância que o delícia: vem sentar-se no seu colo, encosta o rosto no dele. Filadelfo é acariciado. Acaba perguntando: 
- Explica este mistério. Aconteceu alguma coisa. Aconteceu? 
Ela suspira: 
- Mudei, ora! 



SOFRIMENTO 

A princípio, Filadelfo conjeturou: "É hoje só". No dia seguinte, porém, houve a mesma coisa. Ele coçava a cabeça: "Aqui há dente de coelho!". Coincidiu que, por essa ocasião, os seus sogros aparecessem para jantar. Dr.Magarão, enquanto a mulher conversava com a filha, levou o genro para a janela: "Como é? Como vai o negócio aqui?" 

Filadelfo exclama: 
- Estou besta! Estou com a minha cara no chão! 
O velho empina a barriga de ópera-bufa: 
- Por quê? 
E o genro: 
- Tivemos aquela conversa. Pois bem. Jupira mudou. Está uma seda; e me trata que só o senhor vendo! 
Ao lado, mascando o charuto apagado, o velho balança a cabeça: 
- Ótimo! 
- O negócio está tão bom, tão gostoso, que eu já começo a desconfiar! 
O sogro põe-lhe as duas mãos nos ombros: 
- Queres um conselho? De mãe pra filho? Não desconfia de nada, rapaz. Te custa ser cego? Olha! O marido não deve ser o último a saber, compreendeu? O marido não deve saber nunca! 



LUA DE MEL 

Seguindo a sugestão do sogro, de não quis investigar as causas da mudança da esposa. Tratou de extrair o máximo possível da situação, tanto mais que passara a viver num regime de lua-de-mel. Dias depois, porém, recebe uma minuciosíssima carta anônima, com dados, nomes, endereços, duma imensa verossimilhança. O missivista desconhecido começava assim: "Tua mulher e o Cunha...". O Cunha era, talvez, o seu maior amigo e jantava três vezes por semana ou, no mínimo, duas, com o casal. A carta anônima dava até o número do edifício e o andar do apartamento em Copacabana onde os amantes se encontravam. Filadelfo lê aquilo, relê e rasga, em mil pedacinhos, o papel indecoroso. Pensa no Cunha, que é solteiro, simpático, quase bonito e tem bons dentes. Uma conclusão se impõe: sua felicidade conjugal, na última fase, é feita à base do Cunha. Filadelfo continuou sua vida, sem se dar por achado, tanto mais que Jupira revivia, agora, os momentos áureos da lua-de-mel. Certa vez jantavam os três, quando cai o guardanapo de Filadelfo. Este abaixa-se para apanhar e vê, insofismavelmente, debaixo da mesa, os pés da mulher e do Cunha, numa fusão nupcial, uns por cima dos outros. Passa-se o tempo e Filadelfo recebe a noticia: o Cunha ficara noivo! Vai para casa, preocupadíssimo. E, lá, encontra a mulher de bruços, na cama, aos soluços. Num desespero obtuso, ela diz e repete: 

- Eu quero morrer! Eu quero morrer! 
Filadelfo olhou só: não fez nenhum comentário. Vai numa gaveta, apanha o revólver e sai à procura do outro. Quando o encontra, cria o dilema: 
- Ou você desmancha esse noivado ou dou-lhe um tiro na boca, seu cachorro! 
No dia seguinte, o apavorado Cunha escreve uma carta ao futuro sogro, dando o dito por não dito. À noite, comparecia, escabreado, para jantar com o casal. E, então, à mesa, Filadelfo vira-se para o amigo e decide: 
- Você, agora, vem jantar aqui todas as noites! 
Quando o Cunha saiu, passada a meia-noite, Jupira atira-se nos braços do marido: 
- Você é um amor!
(Nelson Rodrigues)




sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Banho de Noiva

Vinte e quatro horas antes do casamento, Detinha suspira:
- Meu filho, posso te fazer uma pergunta?
Peçanha (Antônio Peçanha), que estava limando as unhas com um pau de fósforo, boceja: "Mete lá". E ela:
- Quantos banhos tu tomas?
Admirou-se:
- Por quê? 
E ela
- Responde. Quantos banhos tu tomas por dia?
- Um ora essa!
- Só?
Peçanha caiu das nuvens:
- Tu achas pouco?
Admitiu, lânguida:
- Acho.


O BANHO


Peçanha vira-se, entre surpreso e divertido: - "Estás falando sério? " Insiste: - "Por que não?". O rapaz ergue-se: -"Mas que piada infeliz!". Detinha continuou:

- Sei que, de uma maneira geral, todo mundo toma um banho só. Mas eu não vou atrás de conversa, não. Tomo dois, no mínimo. Quando faz calor, três. Até quatro. Não tolero cheiro de suor nem em mim, nem nos outros. Palavra de honra!
O noivo bufa:
- Quatro banhos?
Confirmou:
- Sim senhor: - quatro. Num clima como o nosso, um banho é pouco. Não dá.
Ele explodiu:
- Ora, Detinha! Tira o cavalo da chuva! Tu achas, talvez, que eu vou passar o dia todo, as vinte e quatro horas do dia, debaixo do chuveiro? Achas que eu não tenho mais nada que fazer senão tomar banho? Gozado!
A pequena ia replicar, quando foi chamada na cozinha. Deixa o noivo na varanda e atende. Peçanha, ainda impressionado, pragueja, interiormente
- Ora pipocas!



O NOIVADO

A casa estava cheia de gente, sobretudo de mulheres. Até uma tia do Realengo, que a família supunha morta e enterrada, reapareceu, sensacionalmente. Velha solteirona, meio estrábica, viera farejar, na sobrinha, a felicidade que a vida lhe negara. Pois bem. Detinha entra e, com pouco mais, volta atarantada: -"Meu filho, vai, ouviu, vai que eu tenho o que fazer, sim?". Beijou-a, de leve, numa das faces, e grita, para dentro, numa saudação coletiva:

- Bye-bye!
Veio a resposta, num alarido de mulheres:

- Bye-bye!
Partiu Peçanha, com uma sensação, uma vaga e desconfortável sensação de escorraçado.


IDEIA FIXA


A caminho do poste de ônibus, Peçanha veio pensando no que ele próprio chamava o "palpite indigesto" de Detinha. Julgara perceber, nas palavras da noiva, uma insinuação extremamente desagradável. De si para si, indagou: - "será que eu cheiro mal?". E suspira: - "Ora veja!". Horas depois, no quarto, não conseguia dormir, aflitíssimo. Só às quatro da manhã é que, finalmente, fechou os olhos e todas as suas incertezas se apaziguaram num sono realmente profundo. Acordou às sete horas, com a alegre exclamação. - "É hoje! Hoje!". Meteu-se debaixo do chuveiro, tomou um banho minucioso, um banho implacável, um banho de casamento. Antes, escovara os dentes com energia, quase com desespero; e só parou quando sentiu as gengivas feridas. Em seguida, pôs perfume, talco, o diabo. Desceu, na euforia do próprio asseio Veio perguntar:

- Que tal o meu hálito, mamãe? Vê que tal?
Soprou-lhe no rosto. A mãe, que era uma emotiva, uma sentimental, disse, já com vontade de chorar:
- Ótimo. E Deus te abençoe, meu filho, Deus te abençoe!
Pouco depois, ele estava tomando uma gemada reconstituinte. A emoção nupcial em vez de lhe diminuir, aumentava o apetite. Antes de ligar o telefone para a noiva, indaga da mãe:
- "Eu quero que a senhora me responda, com sinceridade - alguma vez a senhora observou que eu cheirasse mal? Fala a verdade mamãe!". Ela foi taxativa: - "Nunca!". Mais animado, Peçanha discou para a pequena. Depois do bom-dia recíproco, Detinha quer saber:
- Já tomaste banho?
Protesta no telefone:
- Será o Benedito? Isso é idéia fixa ou que diabo é? Que graça!
Ela pergunta: - "Você se ofendeu? Tipo da pergunta natural!". Passou. Só ao meio-dia houve a cerimônia civil. Eram. enfim, marido e mulher para todos os efeitos. Quando saíram, com o acompanhamento das duas famílias e de amigos mais íntimos, Detinha aproveita a primeira oportunidade para soprar-lhe ao ouvido:
- Vai para casa tomar banho, ouviu? - insiste, baixo, quase sem mover os lábios - Quero te ver cheiroso, bem cheiroso!
- Sossega, leoa!



APAIXONADO

Peçanha correu de táxi para casa, a fim de se preparar para o casamento religioso. Levava, porém, uma surda irritação. Era provável que a idéia de um novo banho lhe ocorresse, espontaneamente. Mas doía-lhe que a noiva quisesse ditar-lhe normas de higiene. Estava tão descontente que fez o seguinte: - sacrificou, por uma espécie de pirraça, o banho proposto. Limitou-se a esfregar álcool debaixo do braço e a repassar uma nova mão de talco. Todavia, quando, horas depois, toma o automóvel com destino à igreja, ocorreu-lhe uma reflexão incômoda: - "Será que eu estou cheirando a suor?". Felizmente, não tardou que chegasse à igreja. E, então; tudo se diluiu no esplendor da cerimônia. A noiva, num vestido maravilhoso, era, sem dúvida, uma doce imagem inesquecível. O que ocorreu, depois, não pode ser descrito. Quando Peçanha deu acordo de si, estava no feérico automóvel, ao lado da noiva. sôfrego. Baixa a voz para Detinha:

- Meu anjo, vê se capricha na pressa; ouviu? - Repetia, transpirando de carinho e impaciência: - Vê se caímos fora cedo!
Detinha não respondeu, como se estivesse imersa num sonho definitivo. Até chegar à casa dos pais, só abriu a boca uma vez, uma única vez, para perguntar: - "Tomaste dois banhos hoje?". Peçanha toma um susto:
- Mas que idéia você faz de mim? Espera lá!



PRIMEIRA NOITE

Na casa dos sogros, Peçanha, discretamente, instiga a noiva: - "Chispa! Chispa!". sua impaciência de amoroso já estava dando na vista e suscitando alegres comentários. Para evitar as despedidas demoradas, saíram pelos fundos; Detinha experimentou uma deliciosa sensação de fuga, de rapto. O automóvel que os levou para o hotel de montanha fez toda a viagem numa velocidade macia, quase imperceptível. Rapidamente chegam lá, sobem, agarradíssimos, para o apartamento já reservado. Entram, e Peçanha, ofegante, com o olho rútilo, torce a chave. Quer agarrá-la, mas ela se desprende, com inesperada agilidade. Ele pergunta: - "Que é isso?" Ela responde - "Primeiro, vou tomar banho. Faço questão absoluta". Ele pediu, rogou, suplicou, a morrer de paixão. Encontrou-a, porém, irredutível. Disse a última palavra: - "Ou você não percebe que este é um momento em que a mulher precisa estar cem por cento?". Teve que capitular. Com um sentimento de frustração, deixou o quarto. Ficou, cá fora, no corredor, fumando um cigarro atrás do outro. Enquanto isso a mulher tomava o seu banho demorado, um banho de Cleópatra. Após uns quarenta e cinco minutos de espera, ela entreabriu a porta: - "Meu bem?". Arremessou-se, num desvario. Novamente, ela o detém: - "Calma, calma!".

Recuou atônito:
- Calma por quê?
E ela doce mas irredutível:
- Já tomei o meu banho. Agora é tua vez.
Quis reagir:
- Ora, Detinha! Que banho? Parece criança! Vem cá, anda vem cá!
Quer segurá-la. Novamente, ela se desprende. Some do seu rosto a expressão de doçura. Trinca os dentes: - "Das duas uma - ou você toma banho ou não toca em mim!". Peçanha abriu os braços:
- Voce está insinuando o quê? Que eu não tomei banho? Tem nojo de mim? Fala! Tem nojo?
Há, entre os dois, uma mesinha, que a protege. Silêncio. Peçanha insiste, já com os olhos marejados:
- Não me custaria tomar um banho, claro. Mas você não vê que é humilhante para mim? Se eu tomar banho, fica parecendo o quê? Que eu sou um sujo, um sebento, um sujeito que cheira mal. Ouviu, meu anjo? - Baixa a voz: - Há certos papéis que um marido não pode fazer! - Pausa e pede: - Agora, um beijo!
Ela recua:
- Não! Primeiro, o banho! Ou banho ou nada feito!
Diante da mulher, que faz da mesinha uma pequena barricada, o marido implora ainda. E Detinha, nada. Por um momento, o pobre-diabo olha na direção do banheiro, disposto talvez a transigir. Mas dá nele, súbito, uma dessas fúrias terríveis. Persegue-a dentro do quarto; chega a agarrá-la. Mas ela se desvencilha outra vez, abre a porta e foge, pelo corredor, gritando. Hóspedes e funcionários do hotel acodem. Então, soluçando, ela aponta para o marido:
- É um porco! Casei-me com um porco! Tirem esse porco daqui!
(Nelson Rodrigues)





terça-feira, 24 de julho de 2012

Não passou

Passou?
Minúsculas eternidades
deglutidas por mínimos relógios
ressoam na mente cavernosa.

Não, ninguém morreu, ninguém foi infeliz.
A mão - a tua mão, nossas mãos -
rugosas, têm o antigo calor
de quando éramos vivos. Éramos?

Hoje somos mais vivos do que nunca.
Mentira, estarmos sós.
Nada, que eu sinta, passa realmente.
É tudo ilusão de ter passado.
(Carlos Drummond de Andrade)


quinta-feira, 21 de junho de 2012

Amei tanto

Nunca fui covarde
Mas agora é tarde
Amei tanto
Que agora nem sei mais chorar

Vivi te buscando
Vivi te encontrando
Vivi te perdendo
Ah, coração, infeliz até quando?
Para ser feliz
Tu vais morrer de dor

Amei tanto
Que agora nem sei mais chorar

Nunca fui covarde
Mas agora é tarde
É tarde demais enfim
A solidão é o fim de quem ama
A chama se esvai, a noite cai em mim
(Vinicius de Moraes)




quarta-feira, 13 de junho de 2012

Despedida

Por mim, e por vós, e por mais aquilo
que está onde as outras coisas nunca estão
deixo o mar bravo e o céu tranqüilo:
quero solidão.
Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces ? - me perguntarão.
- Por não ter palavras, por não ter imagem.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.
Que procuras ?
Tudo.
Que desejas ?
Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.
A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação ...
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?
Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão !
Estandarte triste de uma estranha guerra ... )
Quero solidão.
(Cecília Meireles)




segunda-feira, 4 de junho de 2012

Tortura

Tirar dentro do peito a Emoção,
A lúcida Verdade, o Sentimento!
– E ser, depois de vir do coração,
Um punhado de cinza esparso ao vento!...
Sonhar um verso de alto pensamento,
E puro como um ritmo de oração!
– E ser, depois de vir do coração,
O pó, o nada, o sonho dum momento...
São assim ocos, rudes, os meus versos:
Rimas perdidas, vendavais dispersos,
Com que eu iludo os outros, com que minto!
Quem me dera encontrar o verso puro,
O verso altivo e forte, estranho e duro,
Que dissesse, a chorar, isto que sinto!!
(Florbela Espanca)


terça-feira, 8 de maio de 2012

O anel de vidro

Aquele pequenino anel que tu me deste,
Ai de mim – era vidro e logo se quebrou…
Assim também o eterno amor que prometeste,
Eterno! era bem pouco e cedo se acabou.

Frágil penhor que foi do amor que me tiveste,
Símbolo da afeição que o tempo aniquilou, 
Aquele pequenino anel que tu me deste,
Ai de mim – era vidro e logo se quebrou…

Não me turbou, porém, o despeito que investe
Gritando maldições contra aquilo que amou.
De ti conservo no peito a saudade celeste…
Como também guardei o pó que me ficou
Daquele pequenino anel que tu me deste…
(Manuel Bandeira)


sexta-feira, 27 de abril de 2012

Questão de Pontuação

Todo mundo aceita que ao homem
cabe pontuar a própria vida:
que viva em ponto de exclamação
(dizem: tem alma dionisíaca);

viva em ponto de interrogação
(foi filosofia, ora é poesia);
viva equilibrando-se entre vírgulas
e sem pontuação (na política):

o homem só não aceita do homem
que use a só pontuação fatal:
que use, na frase que ele vive
o inevitável ponto final.
(João Cabral de Melo Neto)



domingo, 22 de abril de 2012

Paul McCartney na Revista Época

Nesta semana, uma reportagem e uma entrevista com nosso amado Sir Paul McCartney foram publicadas na revista Época. O eterno Beatle está no Brasil por conta de suas apresentações em Recife e Florianópolis. Infelizmente não vou aos shows, mas como fã quero compartilhar aqui com vocês uma das perguntas (e respostas) de que mais gostei na citada publicação: o segredo da juventude eterna de Paul.


ÉPOCA – Nos últimos tempos, o senhor emendou uma turnê mundial à outra, quase sem pausa, percorrendo muitos continentes. De onde o senhor tira tanta energia e entusiasmo?


McCartney – Não há segredo para isso. É que amo o que faço, música, shows, concertos, turnês, conhecer lugares em que nunca estive. Faço isso desde o tempo dos Beatles. Sinto uma vibração muito grande das plateias, uma receptividade que talvez outros artistas jamais experimentaram. Isso é maravilhoso. E tocar renova e deixa longe qualquer baixo-astral, até porque percebo que meu público está ficando cada vez mais jovem!


Gente, fala sério, sempre me perguntei de onde esse homem tira tanta energia e tanto pique. Tive a honra e o prazer de assistir a dois shows do ídolo (Pacaembu, SP, em 1993 e Morumbi, SP, em 2010) e voltei pra casa impressionada com a vibração que senti por lá. É incrível!! Lendo esta resposta que citei acima consigo entender de onde vem tanto pique, rsrsrs... É por isso que sempre digo: MÚSICA É TUDOOO!!

Leia trechos da matéria especial aqui e da entrevista aqui.

MACCA FOREVER!! s2



sexta-feira, 20 de abril de 2012

Soneto da Saudade

Quando sentires a saudade retroar
Fecha os teus olhos e verás o meu sorriso.
E ternamente te direi a sussurrar:
O nosso amor a cada instante está mais vivo!

Quem sabe ainda vibrará em teus ouvidos
Uma voz macia a recitar muitos poemas...
E a te expressar que este amor em nós ungindo
Suportará toda distância sem problemas...

Quiçá, teus lábios sentirão um beijo leve
Como uma pluma a flutuar por sobre a neve,
Como uma gota de orvalho indo ao chão.
Lembrar-te-ás toda ternura que expressamos,
Sempre que juntos, a emoção que partilhamos...
Nem a distância apaga a chama da paixão.
(Guimarães Rosa)






terça-feira, 17 de abril de 2012

Arte de amar

Metidos nesta pele que nos refuta,
Dois somos, o mesmo que inimigos.
Grande coisa, afinal, é o suor
(Assim já o diziam os antigos):
Sem ele, a vida não seria luta,
Nem o amor amor.
(José Saramago)




domingo, 8 de abril de 2012

Resenha: Furacão Elis

Há alguns dias li uma biografia super informativa que conta tudo sobre a vida da maior cantora brasileira de todos os tempos, Elis Regina.



O livro narra toda a trajetória da nossa querida Pimentinha, uma artista que transpirava talento, carisma e emoção. É incrível como a potência da voz de Elis não conseguiu ser superada ou substituída até hoje, né?

Sou fã de Elis desde criança, ela sempre foi uma fonte de estudo e inspiração em minha vida. A mulher não desafinava em uma nota, como pode? Mesmo nos shows ao vivo sua afinação era impecável!

Gostei bastante do livro, acho muito enriquecedor conhecer detalhes da vida das pessoas que admiramos. Elis se foi cedo demais, resultado de sua opção por trilhar caminhos perigosos... O importante é saber que, apesar de suas más escolhas e enganos, ela nunca deixará de ser um grande talento do nosso país. Sua figura artística merece todo o nosso respeito e consideração.

Furacão Elis traz entrevistas com amigos e familiares da cantora, além de fotos de diversas fases de sua carreira. Uma leitura bastante prazeirosa!

Pra terminar este post vou compartilhar uma canção de Elis que adoro. Upa Neguinho tem um arranjo delicioso e uma bateria incrível. Paixão total!!


segunda-feira, 26 de março de 2012

O Amor Antigo

O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
a antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.
(Carlos Drummond de Andrade)




quarta-feira, 14 de março de 2012

Auto-retrato

Se me contemplo,
tantas me vejo,
que não entendo
quem sou, no tempo
do pensamento.

Vou desprendendo
elos que tenho,
alças, enredos...

Formas, desenho
que tive, e esqueço!
Falas, desejo
e movimento
— a que tremendo,
vago segredo
ides, sem medo?!

Sombras conheço:
não lhes ordeno.
Como precedo
meu sonho inteiro,
e após me perco,
sem mais governo?!

Nem me lamento
nem esmoreço:
no meu silêncio
há esforço e gênio
e suave exemplo
de mais silêncio.

Não permaneço.
Cada momento
é meu e alheio.
Meu sangue deixo,
breve e surpreso,
em cada veio
semeado e isento.

Meu campo, afeito
à mão do vento,
é alto e sereno:
Amor. Desprezo.

Assim compreendo
o meu perfeito
acabamento.

Múltipla, venço
este tormento
do mundo eterno
que em mim carrego:
e, una, contemplo
o jogo inquieto
em que padeço.

E recupero
o meu alento
e assim vou sendo.

Ah, como dentro
de um prisioneiro
há espaço e jeito
para esse apego
a um deus supremo,
e o acerbo intento
do seu concerto
com a morte, o erro...

( voltas do tempo
— sabido e aceito —
do seu desterro...)
(Cecília Meireles)