quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Nossa história não determina o nosso destino

Há pessoas que ficam totalmente arrasadas diante de uma tragédia. Incapazes de reunir forças para lidar com o que aconteceu, caem em profunda depressão ou prostração, por vezes perdendo toda e qualquer esperança e a vontade de seguir em frente. Pode ser que fiquem totalmente obcecadas com tragédia e sofram com pesadelos, flashbacks e ataques de ansiedade. Outras pessoas, porém, reagem de modo diferente. Conseguem administrar não só os altos e baixos naturais da vida, mas também perdas e traumas potencialmente devastadores. Em vez de ficar deprimidas e incapazes de lidar com a situação, essas pessoas conseguem, de alguma forma, elaborar as circunstâncias dolorosas e seguir em frente.
Boris Cyrulnik teve grande interesse nessa diferença entre as reações. Para descobrir por que algumas pessoas são afetadas de maneira tão profunda, enquanto outras aparentemente conseguem reagir, dedicou sua carreira ao estudo da resiliência psicológica.
Descobriu que resiliência não é uma característica inerente à pessoa, mas algo construído por meio de um processo natural. De acordo com Cyrulnik, "sozinha, uma criança não tem resiliência... trata-se de uma interação, um relacionamento". Construímos a resiliência estabelecendo relações. Estamos sempre "tecendo" a nós mesmos a partir de pessoas e situações que encontramos, das palavras que trocamos e dos sentimentos que emergem. Podemos pensar que, se uma "trama" se perder, toda nossa vida será desfeita. Na verdade, "se apenas um único ponto ficar firme, poderemos começar tudo de novo".
Emoções positivas e humor são fatores essenciais na resiliência. As pesquisas de Cyrulnik demonstraram que as pessoas mais aptas a lidar com obstáculos e traumas da vida são aquelas que conseguem encontrar sentido nas dificuldades, vendo-as como as experiências úteis e enriquecedoras e achar inclusive motivos para rir. As pessoas resilientes sempre conseguem achar que as coisas podem melhorar no futuro, ainda que o presente seja doloroso.

Respondendo aos desafios
No passado, pensava-se que as pessoas mais resilientes eram no geral menos emotivas, mas Cyrulnik acredita que a dor não é mais branda para os resilientes; é uma questão de como decidem usá-la. A dor pode prosseguir, até mesmo pela vida toda, mas, para essas pessoas, ela significa um desafio que optam por enfrentar. O desafio é superar o que aconteceu, tirar forças da experiência, em vez de se deixar derrotar por ela, e utilizar essa força para ousadamente seguir adiante. Com apoio adequado, as crianças são capazes de se recuperar plenamente de um trauma. Cyrulnik demonstrou que o cérebro humano é maleável e pode se recuperar se lhe derem espaço para isso. O cérebro de uma criança traumatizada apresenta uma diminuição de tamanho dos ventrículos e do córtex, mas se, após o trauma, a criança recebe apoio e amor, imagens de ressonância magnética já mostraram que, dentro de um ano, o cérebro consegue restaurar a normalidade.
Cyrulnik ressaltou a importância de não rotularmos as crianças vítimas de trauma nem as classificar como donas de um futuro sem esperança. O trauma é composto de dois aspectos: o dano e a representação do dano. Muitas vezes a experiência pós-traumática que mais prejudica a criança são as humilhantes interpretações dos adultos acerca do evento. Rótulos, disse Cyrulnik, podem ser mais prejudiciais do que o trauma em si.
(Texto retirado de O LIVRO DA PSICOLOGIA)


"A Resiliência é a capacidade da pessoa de crescer diante de problemas terríveis."
(Boris Cyrulnik)

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