Quando iniciamos um relacionamento, duas ilusões comuns e destrutivas se instalam: a crença de que o outro poderá mudar por nossa causa, pois vamos ajudá-lo a mudar, e a convicção de que o outro permanecerá exatamente como era quando o conhecemos. Ambas são ilusões sem base na realidade. As pessoas mudam o tempo todo: ninguém escapa do processo de mudança. Ninguém, entretanto, é capaz de mudar ninguém. Mudamos somente a nós mesmos, fazemos novas escolhas, damos prioridade a outros valores, mas nunca adivinharemos o que nosso cônjuge fará. No máximo, podemos ser um exemplo para os entes queridos e incentivá-los em seus esforços de mudança. Podemos proporcionar um ambiente seguro que induza à transformação, mas nada garante que o outro mudará da maneira como queremos.
Quem acredita ter o poder de mudar o outro são os co-dependentes e as crianças. "Se eu for bonzinho e fizer tudo direito, ele vai mudar." "Ele" só mudará se quiser. Não mudará enquanto a responsabilidade ou a necessidade de mudança for sua. As crianças e os co-dependentes não têm responsabilidade, ou seja, não exercem controle sobre o comportamento alheio e, quando tomam para si essa responsabilidade, impedem a mudança. Só temos poder para nos transformar. Querer não é poder quando queremos que o outro mude. Investir nossos esforços no processo de mudança alheio só nos fará mal, roubando nossa autoestima.
Pedir, tentar, manipular, ameaçar, mandar, suplicar e barganhar para que o outro mude - tudo isso apenas gera um ambiente desestimulante e destrutivo. Quando ficamos negativos assim, mudamos para pior. Deixamos de nos esforçar e perdemos a autoestima. Não deixa de ser irônico o fato de que o parceiro continua a fazer o que quer, mas agora se sente justificado quando nos culpa por impor tanto negativismo e um ambiente tão pesado à relação.
Não caia nessa armadilha. Mesmo - ou principalmente - que seu companheiro lhe peça para ser o agente da mudança dele, não faça isso. Os bons profissionais logo aprendem que não devem ser terapeutas da própria família. Só os amadores acreditam que podem ser os terapeutas de seus entes queridos. É impossível ser objetivo com a pessoa com quem você está envolvido, assim como é difícil aceitar coerente e incondicionalmente alguém ligado à sua vida. É difícil colocar-se na posição do especialista e manter igualdade e equilíbrio no relacionamento. Se lhe pedirem para ajudar alguém a mudar, o máximo a fazer é incentivar a procura de apoio profissional.
Eu insisto: cuide primeiro de você. Responsabilize-se por sua vida. Faça tudo o que puder para torná-la a melhor possível. Isso parece simples, mas não é fácil. Tente mudar o que é possível, ou seja, você mesmo. Aprenda a aceitar primeiro a si próprio e depois a seu parceiro. Se não conseguir aceitá-lo de forma nenhuma ou se ele não estiver disposto a se esforçar para mudar, você se verá diante de um escolha. Abandone-o se necessário. Lembre-se: é sua escolha permanecer ou não nesse relacionamento.
(Susanna McMahon - O Terapeuta de Bolso)
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