terça-feira, 24 de novembro de 2015

As crenças distorcidas no TOC e o Modelo Cognitivo

Domínios de crenças distorcidas no TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo)

A convicção, firmada ao longo do tempo, de que as crenças têm papel importante no TOC fez com que um grupo de especialistas, denominado Obsessive-Compulsive Cognitions Working Group (OCCWG), se reunisse em duas ocasiões, na década passada, para estabelecer por consenso o que seriam as crenças ou os principais grupos ou temas (domínios) de crenças disfuncionais comuns no TOC. Esses grupos ou temas são apresentados a seguir.

Responsabilidade excessiva
É a tendência a sentir-se responsável por eventos fora do próprio controle e por suas possíveis consequências. Tal sentimento leva à realização constante de rituais de verificação, de limpeza, repetições ou até mesmo rituais de caráter supersticioso. Por exemplo: "Se eu não apagar e acender a luz seis vezes, minha mãe pode adoecer, e a responsabilidade será minha" ou "Se eu não verificar o fogão, o gás pode vazar, e minha casa incendiar. E serei o único responsável". Ter excesso de responsabilidade é considerado por alguns autores como o problema central do TOC.

Avaliar o risco de forma exagerada
É a tendência de superestimar a gravidade das consequências e a probabilidade de que eventos negativos aconteçam, ocasionando rituais de limpeza, lavagens excessivas, verificações e evitações. Por exemplo: Se eu apertar as mãos ou tocar em outras pessoas, posso contrair doenças" ou "Se eu deixar o rádio ligado na tomada, ele poderá incendiar, e toda a casa pegará fogo".

Avaliar de forma exagerada a importância e o poder dos pensamentos
É a crença de que pensar é igual a agir ou cometer, ou de que pensar pode influenciar o futuro. Assim, o pensamento significa a mesma coisa que a ação. Essa crença também é chamada de fusão do pensamento e da ação. Acredita-se que origine obsessões de caráter agressivo ou sexual, obsessões e rituais de conteúdo mágico, contagens, etc. Por exemplo: "Ter pensamentos agressivos (ou obscenos) indica o risco de eu vir a cometê-los" ou "Porque eu pensei em morte, alguém da minha família vai morrer".

Preocupação excessiva em controlar os próprios pensamentos
É a crença segundo a qual é preciso exercer controle total sobre os pensamentos e conseguir afastá-los da mente. É decorrência de valorizar de forma excessiva o poder do pensamento. Por exemplo: "Irei para o inferno se eu não conseguir afastar esses pensamentos de conteúdo blasfemo".

Intolerância à incerteza
É a necessidade de ter certeza absoluta em relação ao presente e ao futuro. Isso dá margem a dificuldades de conviver com incertezas e provoca obsessões de dúvida, ruminações obsessivas, repetições, verificações e busca de reasseguramentos. Está relacionada também ao perfeccionismo, na medida em que se acredita que tendo certeza não se cometem falhas. Por exemplo: "Se eu não tiver certeza absoluta sobre algo, vou cometer erros e não serei perdoado", "Preciso ter certeza de que, na conversa com meu amigo, não falei nada impróprio".

Perfeccionismo
É a tendência a conduzir-se de acordo com padrão muito elevado de exigências e de intolerância a falhas. O perfeccionismo está relacionado a obsessões e compulsões por ordem, simetria, alinhamento; com verificações e repetições decorrentes da necessidade de fazer as coisas de forma perfeita, completa ou sem falhas. Por exemplo: "Se meu trabalho tem alguma falha, perde totalmente seu valor", "A falha sempre representa o fracasso", "A falha sempre é imperdoável, mesmo se involuntária ou não-intencional" ou, ainda, "É possível, então devo ser perfeito".

Nem sempre todas essas crenças estão presentes em todos os portadores de TOC. Uma ou mais podem predominar (perfeccionismo, excesso de responsabilidade, etc.), mas também pode ocorrer sobreposição de crenças em um mesmo paciente (excesso de responsabilidade e exagerar o risco, necessidade de ter certeza e perfeccionismo). 
(Aristides V. Cordioli - TOC - Manual de terapia cognitivo-comportamental para o transtorno obsessivo-compulsivo)


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