sábado, 10 de janeiro de 2015

A Dança do Ventre e o Renascer da Feminilidade



Em um tempo onde ligamos a TV e vemos mulheres perfeitas, abrimos as revistas e nos deparamos com corpos torneados e sarados e sempre achamos que estamos com alguns quilinhos a mais, é difícil responder à pergunta: Afinal, o que é feminilidade?
Com a pressão da mídia e as exigências da vida moderna, tornou-se complicado responder essa questão. As mulheres, hoje em dia, têm uma vida atribulada devido ao acúmulo de funções e papéis: super mãe, esposa dedicada, amante sexy, amiga disponível, profissional competente... São tantas coisas que ficamos perdidas, não é mesmo? Afinal, o que devemos ser? Quem devemos ser? E de que maneira?
A mídia nos passa a ideia de que precisamos ser perfeitas para sermos felizes. Nada de estrias, celulite... rugas, então, nem pensar! Algumas de nós aceitam essa imposição equivocada e vivem à base de plásticas e cosméticos, outras, por sua vez, fazem um protesto silencioso à futilidade da indústria da beleza: se negam a seguir a onda, e se largam, alimentando apenas o cérebro, alegando que “a beleza vem de dentro”. E agora? Como trilhar o tão famoso “caminho do meio”?
Bem, não sei a resposta para tantas perguntas, mas tenho algumas pistas. Como professora de Dança do Ventre, pude acompanhar de perto muitas dessas questões femininas acerca da aparência, autoestima, feminilidade... Presenciei muitas experiências, e também vi muitas mudanças ocorrendo no processo de interação que a mulher tem com esta arte milenar. No início, há um deslumbramento: geralmente a mulher assiste a um show, se encanta com os movimentos graciosos da bailarina e decide experimentar. Com o início das aulas, porém, descobre que há algo por trás da arte, um mundo novo de descobertas e surpresas, e também a revelação de facetas escondidas que nem sonhávamos existir.
As primeiras aulas são como um renascimento: movimentos estranhos, sons diferentes, a exposição do corpo em frente ao espelho (e em frente ao grupo de colegas de classe), o desconforto e a insegurança que são peculiares a todos os começos. Dá aquela impressão de que a dança é difícil, enigmática, misteriosa, e que nunca conseguiremos executar aqueles movimentos inacreditáveis que as dançarinas executam. Mas, com o passar do tempo, geralmente nas primeiras aulas já, conseguimos fazer alguns passos: oitos, redondos, batidinhas de quadril, tremidos. Pronto! É aí que a transformação ocorre!
Com os primeiros progressos, a mulher percebe que é capaz de ser tão charmosa, sensual e feminina quanto as bailarinas mais experientes, e então começa seu processo de desenvolvimento na dança. A fase da “super perua” começa: cuidados com as unhas, cabelos, pele, maquiagem, trajes brilhantes e ricamente bordados, véus multicoloridos... Verdadeiramente, um banho de loja! A mulher se transforma, sentindo prazer nos seus rituais de beleza e dedicação a si mesma. Mas o melhor de tudo isso não é a aparência exterior que, realmente, melhora, e muito! O importante é que a mulher passa a tratar seu corpo com respeito e carinho, a se admirar de maneira intensa, a ver beleza nos pequenos gestos, na delicadeza de um olhar, na malícia de um sorriso. De repente, aqueles quilinhos a mais vão desaparecendo, aquela pintinha se torna charmosa, aquele defeitinho passa despercebido. Aquele ser humano se olha e reconhece seus pontos fortes, e vê a perfeição da obra da Natureza ali, diante de seus olhos. “Tenho as pernas finas? Ok, no problem, meus olhos são lindos.”... “Não tenho os seios fartos como eu gostaria? E daí?! Não tem importância, meu sorriso é expressivo e cativante!”, e por aí vai...
Diante dessa mudança de paradigma, vemos a transformação da personalidade da nova bailarina. Insegurança, temores, bloqueios, traumas, tudo isso vai sendo deixado pra trás, vai sendo superado com o processo de elevação da autoestima. Amar a si mesma e se tratar com respeito e carinho é a melhor terapia, em qualquer idade. Realmente, o mundo nos trata como nos tratamos, e você é a primeira pessoa que tem a obrigação de se amar e se respeitar, sempre.
E essa é uma parte da magia da Dança do Ventre. Quem olha de fora, quem assiste uma apresentação, nem imagina o que acontece nos bastidores e, principalmente, dentro da cabeça e do coração de quem está ali, dançando e nos presenteando com sua arte. Claro que ainda existem pessoas grosseiras e ignorantes, que acreditam que essa dança é erótica, vulgar, que expõe a mulher como um mero objeto sexual. Ledo engano. A Dança do Ventre é permeada de elegância, de suavidade, de delicadeza. Os movimentos são sensuais e refinados, nunca apelativos ou grotescos... O corpo é visto como algo sagrado, como um instrumento divino na expressão dos sentimentos que permeiam o coração e a alma da bailarina, assim como as palavras expressam os sentimentos de um poeta. A Dança do Ventre é, finalmente, a expressão máxima da feminilidade, da autoaceitação e do prazer de ser mulher. Experimente você também e (re)descubra sua essência feminina!


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