Os tratamentos para a beleza do cabelo fizeram uma longa viagem no tempo, antes que chegássemos ao estudo do fio propriamente dito há registros da existência de espaços para o embelezamento das melenas ainda na Grécia Antiga. Seriam, digamos, os primeiros salões de cabeleireiro de que se tem notícia. Eram os koureia, prova de que a preocupação grega com a estética era muito mais integrada do que se pode imaginar.
Na época, ofertar as madeixas aos deuses era o maior presente que se podia apresentar. Berenice, por exemplo, cortou seus cabelos e os ofertou em sacrifício a Afrodite, para que seu marido Ptolomeu voltasse ileso da guerra. A própria Afrodite cobria sua nudez com as longas madeixas. Vênus, deusa do amor, era conhecida pelo cheiro de ambrosia que seus cabelos exalavam. Diana, a deusa da caça, entregava sua cabeleira loura aos cuidados das ninfas. Sócrates era calvo e explicava a falta de cabelos com uma tirada filosófica - como seria de se esperar: "Mato não cresce em ruas ativas."
Mas os gregos não foram os únicos povos da Antiguidade a colecionar histórias sobre cuidados e embelezamento dos cabelos. No Egito Antigo os faraós usavam perucas como forma de distinção social. Papiros egípcios com mais de 4 mil anos já faziam referência à anatomia do couro cabeludo e a fórmulas de tratamento para a calvície. Cleópatra receitava para seu amado Júlio César, que era calvo, uma fórmula caseira com rato doméstico, dente de cavalo, gordura de urso e medula de veado. Diziam que o segredo do encanto de Nefertite estava no brilho das suas negras madeixas, banhadas em óleos aromáticos e perfumes.
Em Roma, mulheres tingiam seus cabelos com sabão amarelo ou usavam perucas feitas dos cabelos louros dos prisioneiros bárbaros. Na Idade Média, as imposições religiosas levavam as mulheres a cobrir completamente os cabelos. O abrigo mais simples era constituído por uma peça de linho caída sobre os ombros ou abaixo deles. Os véus de noiva e as mantilhas das espanholas são derivações do costume desse tempo. No fim da Idade Média, os cabelos eram penteados para trás, escondidos, e, se crescessem na testa, eram raspados, para que o chapéu fosse a atração principal, veja só.
Na França de Luís XIV, a tendência era usar cabelos compridos e em longos cachos. O modismo foi logo imitado pelos cortesãos, que começaram a usar perucas de cabelos naturais. Foi nessa época que um cabeleireiro com especial senso de oportunidade imaginou eriçar o cabelo das perucas, enrolando-o molhado em pauzinhos cilíndricos e levando para secar nos fornos das padarias. Essa técnica antiga ainda é praticada com algumas variações nas fábricas de perucas e postiços, com o nome de croquignole ou frisure forceé.
Na corte de Versalhes, as perucas também foram um marco, principalmente com a coleção de Madame Pompadour. Depois de penteá-las, ela costumava vaporizá-las com pós de diversas cores, como azul, rosa, branco ou qualquer outra. Na corte inglesa, durante a dinastia Tudor, a Rainha Elizabeth I costumava realçar os reflexos de seus cabelos com a casca de nogueira e os penteava formando vários aneis estilizados.
No mundo muçulmano não ocidental e tradicional, os cabelos eram cobertos por véus ou lenços - o que persiste até hoje. Revendo religiões e mitologias, percebe-se que não existe um deus sem cabelos. Antes de Cristo, Buda teve suas expressão máxima quando renunciou aos bens materiais e cortou seus cabelos.
Entre mitos, folclores e lendas, duas certamente pertencem ao imaginário capilar da humanidade: a de Sansão, que perdeu a força e ficou à mercê dos filisteus depois que sua amada Dalila cortou sua cabeleira; e a de uma das personagens dos irmãos Grimm, conhecida como Rapunzel, que tinha tranças fortes e tão compridas que serviam de acesso à sua torre no castelo.
(Cabelo: Cuidados básicos, técnicas de corte, coloração e embelezamento - Sonia Biondo/Bruno Donati) - Veja a resenha desse livro aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário