Vivemos uma época em que há mais gente que enfrenta problemas sérios do que gente que vive bem. Talvez seja hora de parar de pensar na questão do indivíduo e mudar o foco para sua formação. O mundo está confuso porque recebemos uma educação insensata com relação à melhor maneira de ser, de viver e de considerar o que é importante. A cultura ocidental adotou um modelo que pode ser definido como modelo do fazer. É possível imaginá-lo como uma linha reta porque seu foco é claramente linear. Esse modelo tem origem na ética ocidental do trabalho e visa à realização de objetivos e à obtenção de recompensas externas. O início do modelo - a linha reta - é o nascimento, a cada passo à frente é marcado por uma nova conquista: diploma, promoção, casamento, casa maior, mais carros, mais riqueza e assim por diante. Pode-se comparar cada passo ao anterior, que foi menor, e ao posterior, que será maior. Há sempre um novo objetivo a atingir até chegar ao fim, que não é a morte, e sim a aposentadoria. Nesse ponto o modelo se extingue porque não há interesse na vida sem trabalho. Em outras palavras, segundo esse modelo, a vida é trabalho.
A própria natureza do modelo, de acordo com sua filosofia subjacente, implica um sistema de vida competitivo, crítico, meritório e de recompensas externas. O problema está no fato de que esse modelo é adequado a um aspecto da vida, a carreira profissional, e não aos demais aspectos. Parece, entretanto, que foi isso mesmo que aconteceu: generalizamos o modelo para abranger o todo da vida. Sendo assim, temos metas a atingir, somos competitivos, críticos e centrados no exterior também nas esferas espiritual, emocional, social e física. Não admira que o mundo esteja tão caótico e nós, tão perdidos.
Precisamos parar de nos culpar por nossa educação inadequada e procurar outro modelo de vida. Há milhares de anos, as filosofias e religiões orientais desenvolveram o que podemos denominar de modelo do ser. Imagine esse modelo como um círculo formado de espirais internas sem começo nem fim. Ele não tem, portanto, um lugar "melhor". Basta estar nele. De fato, ser é o suficiente. Por ser circular, seus ciclos são contínuos, ou seja, sempre se retorna ao ponto inicial, mas nunca exatamente no mesmo lugar. Muda-se constantemente e se percebe tudo em volta, como se os olhos vissem pela primeira vez. Por não haver final conhecido, não há sentido em chegar ao fim. Desse modo, a jornada é o objetivo. O caminho, e não o destino final, é o mais importante. Não há competição porque cada pessoa está onde está, e não é possível nem é preciso fazer comparações. Não há julgamento porque não há quem julgue. Esse é, assim, o modelo da aceitação.
O modelo do fazer é paradoxal porque as pessoas esperam atingir objetivos que não são acessíveis através desse método. Encontraremos os objetivos de paz, equilíbrio e poder interior no modelo do ser, que não visa à realização de metas.
O modelo do ser requer treinamento porque é o oposto de nosso familiar modelo do fazer. Esse modelo oriental, entretanto, não precisa ser o único. Pode-se usar o modelo do fazer em alguns aspectos da vida, como educação e desenvolvimento de carreira, e o modelo do ser em outros aspectos. Atenção: o modelo do ser pode tornar-se um vício benéfico. Um pouco de confiança e um pouco de fé são necessários para transitar de um modelo a outro. Lembre-se: é sempre possível recuar. Você pode preferir voltar ao conhecido. Mas antes pergunte a si mesmo se o modelo do fazer deu certo para você. Aprendeu a acabar com a loucura? Se a resposta for negativa, mude de modelo.
(Susanna McMahon - O Terapeuta de Bolso)
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