Sócrates rapidamente tornou-se figura conhecida em Atenas, com reputação de espírito questionador. Segundo a lenda, um amigo do filósofo perguntou à sacerdotisa de Apolo em Delfos quem era o homem mais sábio do mundo. A resposta do oráculo foi que ninguém era mais sábio do que Sócrates. Ao saber disso, o próprio Sócrates ficou pasmo e recorreu às pessoas mais cultas que pôde encontrar para tentar refutar o oráculo. Descobriu que essas pessoas apenas achavam que tinham respostas, mas diante do questionamento de Sócrates esse conhecimento revelou-se limitado ou falso.
O método que ele usou para questionar o conhecimento desses sábios foi inovador. Sócrates assumiu o ponto de vista de quem nada sabia e simplesmente fez perguntas, expondo contradições nas argumentações e brechas nas respostas para, gradualmente, extrair insights. Ele comparava o processo à profissão de sua mãe, parteira, auxiliando no nascimento de ideias.
Por meio dessas discussões Sócrates compreendeu que o oráculo de Delfos estava certo: ele era o mais sábio de Atenas, não por causa de seu conhecimento, mas porque declarava que não sabia nada. Ele também percebeu que a inscrição na entrada do templo em Delfos, gnothi seauton ("conhece-te a ti mesmo"), era igualmente significativa. Para adquirir conhecimento acerca do mundo e de si mesmo era necessário compreender os limites da própria ignorância e remover as ideias preconcebidas. Só então se poderia ter esperança de determinar a verdade.
Sócrates começou a envolver as pessoas de Atenas em debates sobre tópicos como a natureza do amor, da justiça e da lealdade. Sua missão, mal interpretada como forma perigosa de sofisma (ou esperteza para proveito próprio), não era a de instruir as pessoas, nem mesmo aprender o que elas sabiam, mas explorar as ideias que elas tinham. Era a conversa em si, com a condução de Sócrates, que proporcionava insights. Por meio de uma série de perguntas, ele revelava as ideias e pressuposições de seu interlocutor e, então, expunha as contradições nesse discurso e levava o outro a concordar com um novo conjunto de conclusões.
Esse método de examinar um argumento por meio da discussão racional a partir de uma posição de ignorância revolucionou o pensamento filosófico. Foi o primeiro uso conhecido do argumento indutivo, no qual um conjunto de premissas baseadas em experiências é inicialmente confirmado como verdadeiro e, então, leva a uma verdade universal na conclusão. Essa forma poderosa de argumento foi desenvolvida por Aristóteles e, mais tarde, por Francis Bacon, que a utilizava como ponto de partida de seu método científico. Tornou-se, por consequência, o alicerce não apenas da filosofia ocidental, mas de todas as ciências empíricas.
(O Livro da Filosofia)