Nesta semana conversei com uma pessoa que está passando por um momento de crise no trabalho. Ela trabalha em um lugar que detesta, exercendo uma função muito aquém de sua capacidade e suporta situações de tensão indescritível. Entretanto, seu salário é excelente comparado ao salário de outros profissionais com a mesma formação. Minha amiga sente dor nas costas, dor de estômago e é dona de uma enxaqueca constante.
Tenho um outro amigo que está com problemas no casamento. Ele se casou com uma moça cuja condição financeira era superior à sua. Graças ao casamento, conseguiu estudar, comprar carro, comprar apartamento. No começo, ele realmente amava a esposa, mas agora, quase 10 anos depois, o amor acabou. Ele quer se separar, mas como dividir um patrimônio que já veio quase pronto sem sair como o vilão da história? Como abrir mão do conforto, da estabilidade financeira e arcar com novas despesas e riscos? As brigas são uma constante entre o casal, e o rapaz é humilhado pela família da moça, já que veio de uma condição sócio-econômica mais baixa. E agora? O que escolher? Sossego, liberdade e a chance de ser realmente feliz com um novo amor ou a estabilidade financeira, as humilhações e as rusgas?
Pois bem, acho que grande parte das pessoas já esteve entre a cruz e a caldeirinha em algum momento da vida. Seja no trabalho, na família ou nos relacionamentos amorosos, sempre há um momento em que aquela situação insuportável se torna realmente insustentável. Geralmente, o que começa como um simples desconforto vai evoluindo até se tornar uma fratura exposta, causando dor, tormento, dúvidas e até mesmo desespero. Chega uma hora em que você tem que escolher: ou manter a situação dolorosa e arruinar sua saúde física e/ou psicológica ou romper com o conhecido e aceitar sair da zona de conforto.
Seres humanos se acostumam facilmente a qualquer coisa, seja ela boa ou ruim. Criamos com muito esmero uma aconchegante zona de conforto em nossas vidas, com a finalidade de manter a sensação de estabilidade e segurança (sim, a SENSAÇÃO somente, pois a grande verdade é que nada é estável e seguro nessa vida!). Mesmo que nossa situação esteja preta, tendemos a manter aquilo a que estamos acostumados. Quantas e quantas vezes você já viu (e continua vendo) pessoas vivendo no limite da sanidade mental mas sem a MENOR coragem de tomar uma decisão, de mudar de vida, de dar um basta?
Já passei por isso, e tive o meu quinhão de sofrimento também, obviamente. Há alguns anos, eu estava pagando minha pós-graduação e precisava de dinheiro. No começo do ano, a diretora do colégio onde eu trabalhava me ofereceu um bloco de aulas. Eram 18 aulas no Ensino Fundamental I e II. Apesar de não ter muito jeito com crianças pequenas (1º ao 5º ano), aceitei. Comecei o ano letivo e em poucos dias me vi numa situação esmagadora: apesar de as crianças pequenas me adorarem e serem muito carinhosas comigo, eu me estressava de uma maneira inenarrável durante as aulas. As crianças são bonitinhas e tal, mas junte 30 delas numa sala e tente ensinar-lhes Inglês, rs... Claro que nunca maltratei nenhum aluno pequeno, mas o esforço que tive que fazer para me controlar e chegar ao final do ano foi hercúleo. Pensei em largar as aulas em julho; minha conduta extremamente "caxias" não me permitiu fazê-lo. Eu ganhava muito bem nesse colégio, a grana era boa mesmo, mas a que preço mantive esse salário? No final do ano tive que gastar grande parte do dinheiro que ganhei com médicos, exames e remédios, pois tive uma crise de gastrite horrenda e passei muito mal. Aí fica a pergunta: VALEU A PENA?
Sempre achei que não podemos ser moles, indolentes, mimados. O desconforto faz parte da vida, é verdade, mas suportar mais do que você aguenta é uma roleta russa, não tem jeito. No exemplo citado acima, percebi que não aguentaria mais um ano com os pequenos. Passei as aulas para outro professor e segui lecionando para os mais velhos. Mas e se eu continuasse? Que malefícios poderiam ocorrer à minha saúde física e mental?
Em todas as atividades e relacionamentos, devemos esperar um certo grau de desentendimento e frustração. O mundo não é perfeito, as pessoas são falíveis (todos nós) e coisas desagradáveis acontecem. É evidente que não podemos desistir de uma meta ou atividade no primeiro obstáculo. Porém, seguir dando murro em ponta de faca é um ato de desamor para conosco. Continuar comendo arroz com pedra é de um masoquismo incrível! Não sei como as pessoas suportam passar por tanto stress!
Claro que uma pessoa que tem filhos para sustentar, por exemplo, não pode escolher muito e às vezes tem que engolir alguns sapos, pois tem dependentes para criar (mesmo assim isso é relativo, eu acho que a pessoa SEMPRE tem o poder de escolha, basta ter coragem para encarar as consequências). Uma pessoa sem filhos e sem grandes despesas tem muito mais facilidade para se demitir ou para se divorciar. Isso é óbvio. Uma pessoa que tem filhos não pode simplesmente se demitir ou se divorciar, pois terá que sustentar seus dependentes por pelo menos 20 anos. Mas mesmo assim... será que o indivíduo está condenado a viver numa única situação/emprego/relacionamento a vida toda? Pense comigo: você tem que aturar seu emprego ou seu cônjuge para sempre, mesmo se sentindo extremamente infeliz e insatisfeito? Mesmo? Onde isso está escrito? Isso é lei? Você está mesmo condenado a prolongar seu sofrimento indefinidamente? Por quê? Quem decidiu isso por você? E por que você aceita ser infeliz?
As coisas não duram para sempre. Devemos sempre buscar a satisfação nas nossas atividades, sem dúvida. Se depois de tentar por um bom tempo prosseguir com algo que lhe deixa muito infeliz você decidir tomar a coragem de romper com o conhecido e construir uma nova vida, parabéns! Você tem autoestima, você tem coragem, você se ama e se respeita verdadeiramente. Existem milhões e milhões de outros empregos no mundo. Existem milhões e milhões de pessoas legais que podem lhe trazer muita alegria e satisfação no amor. Existem bilhões de oportunidades no mundo lá fora, é só você DECIDIR ir buscá-las. Dinheiro a gente ganha e gasta (com parcimônia, é claro!), mas o tempo que a gente já viveu não volta mais. O tempo escoa pelas mãos, sem parar. Quanto tempo da sua vida você ainda vai perder insistindo em algo que não vai dar certo? Se o seu emprego é péssimo, você realmente acha que vai ter conserto? Se o seu cônjuge não é a pessoa que lhe traz a felicidade que você merece, você acha que ele vai mudar só porque você quer? Não seria mais adulto arregaçar as mangas e buscar aquilo que você deseja?
Repetindo: é claro que não devemos abandonar pessoas e empregos ao primeiro sinal de desconforto, mas sugiro que você se dê um prazo para ver se as coisas melhoram ou não. Faça um arranjo consigo mesmo, algo como "Se a situação aqui não melhorar em 6 meses, vou embora mesmo, sem desculpas esfarrapadas". Faça esse acordo com você mesmo e aja! A vida é breve e não devemos perder tempo com aquilo que nos machuca e nos deixa infelizes. Seja adulto, faça um planejamento de ação e AJA!
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